Título: Alckmin diz que o país, para crescer, precisa cortar gastos e impostos
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2005, Política, p. A5
Sem assumir-se como candidato, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), apresentou ontem para uma platéia de 1,5 mil empresários uma plataforma de campanha para a Presidência da República. O tucano definiu a dificuldade de conciliar políticas de contenção da inflação e de fomento ao crescimento econômico como o principal desafio e propôs, como resposta, o corte de gastos e de impostos. "O Brasil após Fernando Henrique deu um grande salto de qualidade. Mas passou a ter um desafio: se crescer um pouquinho, a inflação sobe, e ficamos na camisa-de-força de ter de erguer a taxa de juro para evitar que a inflação volte e segurar o crescimento interno. Será que podemos agregar algo a mais?", indagou o governador, para em seguida responder: "O caminho é desonerar o setor produtivo. O governo não gera empregos, quem gera emprego é a iniciativa privada. Isto só sai do papel se tivermos a coragem de cortar gastos. É preciso fechar as torneiras, porque a gastança é maior do que o PIB. A sociedade começa a reagir e não aceita mais aumentos na carga tributária", disse. Alckmin participou ontem de um almoço de debates com empresários promovido pela Associação Brasileira de Dirigentes de Venda (ADVB), em que a candidatura presidencial do tucano foi abertamente defendida pelo presidente da entidade, José Zetune, e pelo vice-presidente, João Dória Júnior Em seu discurso, Alckmin fez um paralelo permanente entre o governo federal e o de São Paulo. Procurou caracterizar a sua administração como uma gestão que cortou custos e carga tributária, o oposto do que fez a União. "Do aumento de 1,6% da carga tributária sobre o PIB, somente 0,1% foi para investimento. O resto foi para gastos correntes. Já o Estado de São Paulo aumentou investimentos com redução da carga tributária. É menos imposto com mais eficiência. Estamos com os menores impostos do país", disse. Segundo Alckmin, "o governo paulista teve por quase uma década déficits permanentes e a partir de 1995 déficit zero, sem mandar a conta para o contribuinte". Ao responder a perguntas da platéia, fez duas promessas: retirar todos os prisioneiros de delegacias policiais, o que poderá liberar efetivo para o policiamento, e promover um "outono tributário", com novas isenções de ICMS além das já anunciadas para o pão francês, a farinha de trigo e o macarrão. Em uma crítica indireta à participação do PT no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Alckmin afirmou que "não se governa para um partido ou para amigos, porque o dinheiro vem do suor de toda sociedade que paga impostos ". Desde a eleição municipal, o tom de Alckmin em relação ao governo federal tem sido de agressividade crescente. Ao apresentar os resultados fiscais do Estado, no ano passado, protestou contra o que chamou de "sanha tributária" da União. Mais recentemente, envolveu-se em uma polêmica com o presidente. Ao responder a críticas de Lula em relação à crise da Febem, Alckmin afirmou que "governante não é comentarista" e que o presidente lançava "palavras ao vento".