Título: Eletrobrás lucra com federalizadas
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2009, Empresas, p. B1
O presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes, atribuiu parte do lucro de R$ 6,1 bilhões em 2008, divulgado pela empresa na semana passada, à melhora no resultado das distribuidoras federalizadas. Segundo ele, na Eletrobrás chegou-se a especular que elas pudessem registrar prejuízo de R$ 1,8 bilhão no ano passado, mas o resultado foi lucro de R$ 53 milhões, contra prejuízo de R$ 1,172 bilhão em 2007. A estatal que controla as geradoras Chesf, Furnas, Eletronorte, Eletrosul e Eletronuclear fechou 2008 com R$ 13,5 bilhões em caixa, sendo R$ 10,5 bilhões da holding e os resto das controladas.
O faturamento do sistema aumentou 24% em razão, principalmente, da venda de energia excedente no mercado livre pela Chesf. O lucro foi fortemente influenciado pela desvalorização do real frente ao dólar e a incidência de correção pela inflação americana de recebíveis de R$ 16,8 bilhões (equivalentes a US$ 7,5 bilhões) referentes a Itaipu. Assim, R$ 4,3 bilhões do lucro foram resultado da variação cambial, outros R$ 1,3 bilhão correção da dívida de Itaipu e créditos a receber em dólar, enquanto R$ 1 bilhão do aumento das vendas de energia.
"Estamos em uma crise da qual não temos dimensão. Mas nossos contratos estão protegidos e qualquer problema será localizado e não vai afetar nosso caixa", afirmou Muniz, dizendo-se a favor da licitação de Belo Monte em outubro.
Sobre os efeitos da crise nas controladas, Muniz disse que há um pleito dos grandes consumidores junto ao Ministério de Minas e Energia para reduzir os contratos de eletrointensivos com a Eletronorte. Mas ele afirmou que isso a Eletrobrás não aceita. "O que podemos negociar é o diferimento de uma parte da receita, que pode ser adiada."
As distribuidoras federalizadas controladas pela Eletrobrás são a Boa Vista Energia (RR), Companhia Energética de Alagoas (Ceal), Companhia Energética do Piauí (Cepisa), Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron), Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre) e Manaus Energia. A gestão das empresas agora é centralizada, com seis diretores sob o comando de Flavio Decat, diretor de transmissão da Eletrobrás. Agora a venda delas, que já foram consideradas "micos", não está nos planos da estatal.
"Não passa pela nossa cabeça vender nenhuma das empresas, pelo contrário. Trabalhamos com a hipótese de ganhar muito dinheiro agora que a empresa tem gestão profissional", disse Muniz. "A distribuição passou a ser um ótimo negócio. É uma atividade regulada que garante 10% de retorno sobre a base de ativos", afirmou Decat.
As distribuidoras controladas podem até aumentar de número. Muniz explicou que o governo estuda a possibilidade de encampar as problemáticas Companhia Energética de Roraima (CER) e a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA). A CEA, não paga pela energia que consome há 13 anos. A dívida da empresa com a holding é de R$ 560 milhões e só no ano passado deixou de pagar R$ 152 milhões. A dívida da CER é menor, de cerca de R$ 20 milhões. A empresa atende o interior de Roraima comprando 200 megawatts (MW) de energia da Venezuela em contrato até 2017.
Sobre os dividendos não-pagos de R$ 9,3 bilhões (sendo R$ 2 bilhões para minoritários privados e o restante para o próprio Tesouro e fundos setoriais estatais), Muniz disse que a intenção é "pagar o quanto antes", mas que a proposta esbarra atualmente na indisponibilidade de orçamento do Ministério da Fazenda, que teria de fazer um aporte de capital na Eletrobrás. Outro problema é a meta de contribuição da estatal para o superávit primário, de R$ 1,6 bilhão.
Até quinta-feira a Eletrobrás vai receber propostas para emissão de bônus no valor de US$ 600 milhões, que fazem parte de um programa de captações de R$ 2 bilhões. Os investimentos para 2009 serão de R$ 8,6 bilhões, parte ainda a contratar. Os recursos para a construção de Angra 3, que deverá ter 70% dos R$ 7,5 bilhões financiados pelo BNDES, ainda não estão equacionados.