Título: Queda na importação garante superávit
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2009, Brasil, p. A5

Contrariando as expectativas de queda nos resultados do comércio exterior, o Brasil conseguiu fazer no primeiro trimestre um superávit de U$ 3,0 bilhões, 9% maior do que no mesmo período do ano passado. Em março, o saldo positivo foi de US$ 1,77 bilhão e a diferença em relação a 2008 aumentou e chegou a quase 80% (ou 63% a mais na média diária de exportações por dia útil). Estes resultados foram alcançados apesar da queda nas vendas ao exterior, pois o recuo das importações foi maior.

Entre janeiro e março, as exportações recuaram 19,4% sobre 2008 e as importações foram 21,5% menores. Caíram, principalmente as compras de combustíveis e lubrificantes, matérias primas e bens intermediários e bens de consumo duráveis, um reflexo da retração econômica, da queda de preços internacionais e, em grande medida, da valorização do dólar em relação ao real. Apesar do bom resultado em matéria de contas externas, as exportações mantiveram o ritmo de queda seguido desde o início do ano, especialmente para mercados tradicionais como América Latina e Caribe e os Estados Unidos. Segundo o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, é "uma previsão realista" imaginar uma queda de 20% nas exportações em 2009, para US$ 160 bilhões.

A queda nas vendas para mercados importantes foi compensada parcialmente pelo excelente desempenho das vendas à Ásia (principalmente China e Coreia, com 135% de aumento), África e Oriente Médio, principalmente de commodities como minérios, ferro e soja. As exportações mantiveram uma média diária semelhante a de fevereiro, equivalente aos níveis de março de 2006. As importações ficaram pouco acima do total registrado em março de 2008.

"O que garante o desenvolvimento não é o superávit, mas a corrente de comércio, o total das exportações e importações, e esta está caindo", comentou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ao avaliar os resultados de março. Castro já previa, desde setembro, uma queda de cerca de 20% das exportações brasileiras, mas admite que ficou surpreso com a grande queda das importações. "Pensamos que a queda das importações seria mais visível em abril, mas a crise vem desenvolvendo uma velocidade maior do que se imaginava.".

A forte valorização do dólar, segundo o economista, ainda é a principal responsável pela redução nas importações brasileiras, que, agora, sentem também a contração do consumo. A queda de bens duráveis como automóveis e partes e equipamentos eletrônicos não foi muito forte (entre 18% e 24%), mas as importações de máquinas e aparelhos de uso doméstico caíram 44%. Entre os principais itens de importação, as maiores quedas na média diária foram adubos e fertilizantes (82%), cobre (57%), algodão (40%), filamentos e fibras sintéticas (40%) e borracha (35%). Esses números indicam redução na produção interna e também substituição de fornecedores estrangeiros por nacionais, devido à desvalorização do real.

Entre os chamados bens de capital, máquinas e equipamentos destinados à indústria, houve um forte aumento de 44% nas compras de máquinas industriais (o que indica a continuidade do processo de investimento em alguns setores), mas foi registrada uma queda forte nas compras de partes e peças (- 26%) e de maquinário para escritório (-24%) - este último item influenciado pelos cortes de orçamento das companhias e pela migração do consumo em direção aos equipamentos nacionais.

Para Barral, a sólida situação de contas externas do país e do sistema bancário dá melhores condições ao Brasil de atravessar as turbulências do mercado mundial. Ele lembrou que outros grandes exportadores também enfrentam fortes quedas nas exportações: 43% na Rússia, 31,5% no México e 21,5% nos EUA em janeiro. "O Brasil tem mais crédito hoje disponível para os exportadores que a maior parte dos países do mundo", festejou o secretário.

A retração dos mercados mundialmente pode levar o Brasil a ampliar sua fatia no comércio global, reconhece José Augusto de Castro. Ele adverte, porém, que esse resultado não representa nenhum avanço e não desobriga o governo d e adotar medidas para garantir a competitividade das exportações.

A média diária das exportações brasileiras vem crescendo continuamente neste ano, e passou de US$ 466 milhões em janeiro para US$ 537 milhões em março. Mas os resultados de março mostram um comércio excessivamente dependente das compras de matérias primas e alimentos, em forte medida por parte dos países emergentes. As vendas de produtos básicos, como ferro e petróleo, cresceram, em média, 14% em março de 2009 quando comparadas com março de 2008. A venda de produtos industrializados caiu 27%.