Título: Lula enfrenta PT e Aldo deve permanecer no ministério
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2005, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar, até sexta-feira, a reforma ministerial, planejada desde novembro do ano passado. Pressionado de um lado pelo PT, que não quer perder espaço no primeiro escalão, e do outro pelos partidos aliados, que exigem participação efetiva na divisão de poder, Lula pretende fortalecer o caráter de coalizão de sua gestão, com vistas a seu projeto de reeleição, em 2006. O PT insiste em ter sob seu comando a Coordenação Política do governo - desde janeiro de 2004, o cargo é ocupado por Aldo Rebelo, do PC do B. Na semana passada, porém, o presidente Lula comunicou a Aldo que ele permanecerá no posto. "Isso já está certo. Aldo está confirmado", disse ao Valor um ministro. Antes de conversar com Aldo, Lula teria informado sua decisão ao ministro da Casa Civil, José Dirceu. Na noite de domingo, Dirceu reuniu em sua residência, em Brasília, os ministros do PT para tratar da reforma ministerial. O presidente o teria encarregado de preparar os ministros petistas, com a ajuda do líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), para as mudanças que virão. Dos 35 ministros, 19 são do PT. Pelo menos dois ministros do PT - Humberto Costa (Saúde) e Ricardo Berzoini (Trabalho) - deverão ser demitidos nos próximos dias. Outros dois - José Fritsch (Secretaria Especial da Pesca) e Olívio Dutra (Cidades) - também estão ameaçados, mas dificilmente seus cargos serão ocupados por ministros não-petistas. Três ministros asseguram que Lula não demitirá Olívio. No caso da Saúde, o presidente Lula poderá nomear Ciro Gomes, atualmente à frente da Integração Nacional. Ciro continua em alta no Palácio do Planalto. Lula, segundo um assessor, o considera "leal". Além disso, recentemente Ciro teria assegurado a Lula que não será candidato à presidência em 2006. Suspenso por seu partido, o PPS, Ciro, segundo fontes ouvidas pelo Valor, está com um pé no PSB, partido que integra a base de apoio ao governo. "Ele está apenas esperando passar a reforma para entrar no PSB", contou um interlocutor do presidente. No PSB, informou um integrante do partido, Ciro pode tanto sair candidato ao governo fluminense em 2006 quanto a vice-presidente, na chapa de Lula. Com a saída de Ciro da Integração, o ministério poderá ser ocupado por Eunício Oliveira, hoje nas Comunicações. Isso deverá ocorrer especialmente se a Pasta das Comunicações interessar à senadora Roseana Sarney, cotada para assumir um cargo no primeiro escalão. Sua nomeação ajudaria a consolidar a aliança de Lula com o senador José Sarney (PMDB-AP). Berzoini deve deixar o Trabalho para ceder a Pasta ao PP. O deputado Pedro Henry (PR) chegou a ser convidado no fim do ano passado pelo Palácio do Planalto, ainda sem a definição do cargo, mas, nos últimos dias, o partido de Henry começou a debater outros nomes. O Planalto, no entanto, quer que Henry seja o ministro do PP no governo. Para a liderança do governo na Câmara dos Deputados, dois ministros informaram que o presidente Lula quer nomear o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), embora o PT esteja trabalhando pela indicação de João Paulo Cunha (PT-SP). "Lula não quer João Paulo. Para o presidente, ele lhe criou muitos problemas no ano passado", revelou um ministro, referindo-se à campanha fracassada de João Paulo pela reeleição e à derrota de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) na disputa pela presidência da Câmara. Sigmaringa teria, em seu favor, o fato de ter boas relações com o núcleo decisório do governo (com o próprio Lula, de quem é amigo pessoal, além dos ministros José Dirceu e Aldo Rebelo) e com o Poder Judiciário e o principal partido de oposição (o PSDB, ao qual já foi filiado). Um terceiro nome do PT que corre por fora para a liderança do governo é o do deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP). Seu principal apoio vem do senador Aloizio Mercadante.