Título: Denúncia contra Tasso expõe luta política radicalizada
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2009, Política, p. A11

Com a divulgação de supostas irregularidades envolvendo o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), na "Folha de S. Paulo" de ontem, lideranças do PSDB disseram estar convencidas que o partido tornou-se vítima da guerra de informações que divide o Senado desde a eleição do pemedebista José Sarney (AP) para a presidência da Casa. A denúncia contra Tasso era de usar verba oficial destinada a passagens aéreas para alugar jatinhos - o que não é expressamente proibido no ato da comissão diretora do Senado que dispõe sobre a concessão de passagens aéreas aos senadores.

"Existe uma luta clara aqui dentro. Há senadores que reclamam do grupo que se assenhorou desta Casa e montou uma máquina descontrolada de todas as possíveis margens e limites éticos, morais e administrativos. Evidentemente que quem faz isso fere, aborrece, cria inimigos. E inimigos provavelmente de mau caráter e boa parte deles de caráter muito duvidoso", afirmou o tucano.

Nas quase três horas em que Tasso esteve na tribuna, negando ter cometido ilegalidade e recebendo solidariedade, tucanos cobraram que Sarney desmonte a estrutura deixada por Agaciel Maia - o ex-diretor-geral afastado por causa da revelação de que não transferiu para seu nome uma casa de sua propriedade em bairro nobre de Brasília.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), em ameaça não levada a sério pelos colegas, chegou a cogitar - caso Sarney não cumpra a promessa de mudar a estrutura da Casa - a coleta de assinaturas para a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) "para investigar os 15 anos da administração Agaciel Maia". O servidor é ligado a Sarney e ao líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).

Os senadores Jefferson Praia (PDT-AM) e Mário Couto (PSDB-PA) disseram já ter usado recurso da verba das passagens para alugar aviões. O atual diretor-geral do Senado, José Alexandre Gazineo, divulgou ofício atestando que o ato de Tasso foi pautado "pelos ditames da legalidade, transparência e publicidade".

Na disputa pela presidência do Senado, o PSDB decidiu apoiar o candidato do PT, Tião Viana (AC), que concorreu com Sarney e tinha assumido compromisso de demitir Agaciel. Com a vitória de Sarney, ele foi mantido, mas acabou afastado por causa das acusações. Desde então, o Senado sofre bombardeio de acusações, vazadas à imprensa. Além de questões administrativas, como excesso de diretorias e horas-extra em período de recesso, senadores foram alvo de denúncias. Entre eles, Roseana Sarney (PMDB-AP) e o próprio Tião Viana.

Renato Casagrande (PSB-ES), um dos cerca de 20 parlamentares que fizeram apartes a Tasso, atribui esse clima de denúncias ao "segundo turno" da eleição para presidente do Senado. "E é alimentado pelas mazelas acumuladas nesses anos em que a Casa ficou privatizada, atendendo interesses de poucos. É a hora de modernizar a estrutura do Senado."

Tasso, que possui avião, confirmou ter usado verba destinada às passagens para sete viagens em seus seis anos de mandato. "Fiz isso com clareza e transparência. Usei a parte não utilizada de minha cota de viagens... E fiz porque era legal, dentro de uma ferramenta que é colocada à disposição dos senadores", disse.