Título: Odebrecht assume concessão em São Paulo
Autor: Teixeira , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2009, Empresas, p. B11

Depois de sete anos longe das concessões rodoviárias, a Odebrecht assumiu ontem o primeiro trecho sob sua administração desde que a empresa abandonou a sociedade na CCR, no início de 2002. A empreiteira arrematou o mais importante dos cinco lotes licitados pelo Estado de São Paulo em outubro, a rodovia Dom Pedro, um trecho total de 297 quilômetros pelo qual a empresa deverá pagar R$ 1,3 bilhão em outorga ao Estado - e planeja investir mais R$ 1,4 bilhão nos primeiros seis anos da concessão. Desta vez a Odebrecht assumiu sozinha o negócio, e diz estar preparada para disputar novos contratos.

A nova concessionária foi batizada de Rota das Bandeiras, e vai administrar por 30 anos os 145 quilômetros da Dom Pedro, além de outras cinco pequenas rodovias que fazem sua ligação a municípios próximos, totalizando os 297 quilômetros. Na terça-feira a empresa depositou um cheque de R$ 268 milhões na conta do governo de São Paulo para assumir o contrato, iniciando o pagamento da outorga, parcelada em quatro anos. A concessionária deverá desembolsar R$ 2,4 bilhões em investimentos na rodovia ao longo da concessão.

Segundo o executivo que assumirá o comando da Rota das Bandeiras, Sidney dos Passos Ramos, a despeito da grande sensibilidade do fluxo de veículos nas estradas à oscilação da economia, nenhum investimento foi adiado. Do lado da receita, o executivo afirma que não há previsão de uma queda relevante na movimentação de veículos em 2009 em relação a 2008. Apesar de alguns dados indicarem queda na movimentação nos primeiros meses deste ano, a tendência não deve se manter, e a indústria automobilística já dá sinais de recuperação. A queda registrada no início de 2009, diz Sidney, é mais do que compensada pelo crescimento de 14% no fluxo da rodovia entre julho de 2008, quando a empresa fez o estudo de viabilidade do negócio, e dezembro do mesmo ano.

O financiamento da concessão também está garantido por um empréstimo-ponte de 18 meses fechado com o banco Santander, no valor de R$ 1 bilhão. A empresa está negociando contratos de longo prazo com o BNDES e BID para fazer frente aos investimentos nos próximos anos.

A Dom Pedro foi arrematada com o menor deságio nas tarifas entre os cinto trechos licitados pelo governo de São Paulo em outubro, com um valor 6% inferior ao teto fixado pelo edital - o maior deságio, oferecido pela BR Vias no trecho oeste da Marechal Rondon, foi de 40%. A Odebrecht chegou a disputar o trecho leste da Marechal Rondon, mas perdeu por uma margem pequena.

Segundo o diretor da nova concessionária da Dom Pedro, apesar do deságio baixo, os motoristas ainda encontrarão tarifas pelo menos 15% inferiores à média das outras 12 concessões paulistas em operação. O preço cobrado nas praças de pedágio da Dom Pedro ainda ficarão congeladas por mais seis meses nos valores hoje praticados pelo Estado, mas depois deverão subir. De acordo com Sidney Ramos, as tarifas praticadas pela administração pública nas rodovias estaduais ficaram depreciadas nos últimos anos, mas eram próximas a US$ 0,13 por quilômetro no fim dos anos 90.

O único dos cinco trechos licitados no ano passado já entregue à administração privada pelo governo, além do corredor da Dom Pedro, foi o lote da Raposo Tavares, assumido pela Inepar OAS em 17 de março. A previsão é de que os outros três trechos serão entregues ainda em abril. A Triunfo arrematou o conjunto Ayrton Senna/Carvalho Pinto, e o trecho leste da Marechal Rondon ficou com a Brasinfa. O Estado licitou um total de 1,7 mil quilômetros de rodovias, e embolsará quase R$ 3,5 bilhões em outorgas. Os investimentos assumidos pelas concessionárias somam R$ 8 bilhões.

Com a licitação, restaram poucas rodovias no Estado de São Paulo a serem entregues à inciativa privada. A única previsão é a concessão do trecho leste do Rodoanel, anunciado pelo Estado no ano passado. O novo executivo da concessionária da Odebrecht na Dom Pedro, Sidney dos Passos Ramos, não revela se a empresa está interessada no negócio, mas diz que a companhia deverá avaliar todos os negócios que surgirem na área.