Título: Temporada de inaugurações
Autor: Ribeiro, Luiz; Augusto, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 20/01/2010, Política, p. 6

Em clima de campanha, Lula e Dilma participam de cerimônias de entrega de barragem, escola técnica e termelétrica no interior mineiro

Jenipapo de Minas e Juiz de Fora ¿ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a inauguração de obras em Minas Gerais ontem, ao lado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para provocar a oposição e transformar em palanque, com discurso de campanha, a entrega de uma barragem em Jenipapo de Minas, uma escola técnica em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, e uma termelétrica e unidades de saúde em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Lula afirmou que vai ¿inaugurar o máximo possível de obras¿ até março, ¿para mostrar quem foram as pessoas que ajudaram a fazer as coisas neste país¿, em solenidade em Jenipapo de Minas.

No mesmo evento, a ministra Dilma Rousseff também não perdeu tempo: diante de um público de 3 mil pessoas, falou em tom de pré-candidata dos investimentos em regiões pobres e atacou a oposição, à qual acusou de ameaçar acabar com o Programa de Aceleração do Crescimento, gerenciado por ela.

¿Vira e mexe, querem acabar com algum programa do governo Lula. Em 2006, eles queriam acabar com o Bolsa-Família. Em 2010, o objetivo é acabar com obras como esta¿, atacou. Ela aproveitou para prometer obras de pavimentação de dois trechos da BR-367, inseridos no PAC, e terminou o discurso em lágrimas, reforçando a condição de mineira (1)expulsa do estado ¿à força¿ pela ditadura militar.

Em Araçuaí, foi a vez de o presidente disparar contra a oposição ao inaugurar a Escola Técnica do Instituto Federal Norte de Minas. Lula vinculou uma eventual vitória da oposição na eleição presidencial deste ano a um retrocesso e discursou dizendo que ¿ninguém precisa acreditar em fantasias e promessas de última hora. Quem sabe faz, quem não faz, promete¿.

Ausência

A ausência do governador Aécio Neves nas inaugurações foi justificada pelo próprio presidente Lula, em Jenipapo de Minas. Pela manhã, Lula anunciou que, na véspera, havia recebido uma carta do chefe do Executivo esclarecendo que, ontem, teria agenda a cumprir em Belo Horizonte. ¿O Aécio sempre esteve presente em todas as outras inaugurações que fizemos¿, disse. O governador permaneceu na capital.

Lula anunciou que, nos primeiros três meses deste ano, vai inaugurar outras obras semelhantes no país, até quando o calendário eleitoral permitir. ¿No fim de 2009, eu disse para o companheiro Geddel (Vieira Lima) que no primeiro trimestre de 2010 vamos visitar e inaugurar todas as nossas obras em Minas Gerais, que são muitas, inclusive de barragens, porque, a partir de junho... a partir de abril, o Geddel não mais vai estar no governo, a Dilma não mais vai estar no governo e quem for candidato não poderá mais subir no palanque comigo. Então, é importante que a gente inaugure o máximo de obras possível.¿

Do Jequitinhonha, a comitiva seguiu para Juiz de Fora, onde participou da inauguração da conversão da usina termelétrica da Petrobras para operar com etanol (a primeira do mundo a usar o biocombustível) e de unidades de pronto atendimento (UPA). Lá, o presidente disse que nos próximos dias anuncia um programa para construção de novas usinas hidrelétricas com um conceito que permitirá ampliar o aproveitamento hídrico do país. ¿Nós vamos lançar a `hidrelétrica plataforma¿, que funcionará como um plataforma de petróleo e vai ser levada de helicóptero para o meio do mato¿, afirmou Lula.

1 - Candidata de raiz Em sua primeira viagem a Minas no ano eleitoral, a pré-candidata de Lula pôs em prática a estratégia de se colocar como candidata mineira à Presidência. Enfatizou que nasceu em Belo Horizonte, onde estudou e formou-se em economia. ¿Depois, fui obrigada por razões políticas, por perseguição política, a sair de Minas¿, disse, justificando por que mudou-se para o Rio Grande do Sul. Assegurou que, por isso, não vai aceitar que haja discussão se ela é mineira ou não. ¿Quero dizer que a gente pode sair do estado onde nasce, mas o estado não sai da nossa alma e do nosso coração¿, afirmou a ministra.

PDT alinhado

Flávia Foreque

A candidatura da ministra Dilma Rousseff ao Planalto foi o tema central de reunião da Executiva do PDT realizada ontem, em Brasília. A legenda reforçou a aliança em torno da candidata do presidente Lula e discutiu o cenário nos estados para o lançamento de candidatos do PDT ao governo. O encontro, de iniciativa do ministro do Trabalho e presidente licenciado da legenda, Carlos Lupi, antecipa a decisão que será tomada na convenção da legenda, ainda sem data certa. ¿O resto é formalidade. Nós vamos referendar apenas o que aconteceu hoje¿, afirmou o líder do PDT na Câmara, deputado federal Dagoberto (MS).

O anúncio de que o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) desistiu de se candidatar à Presidência da República enfraqueceu setores do partido que defendiam um nome próprio. A pré-candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) e do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) ao Planalto também tiveram peso na decisão. ¿Para viabilizar uma candidatura própria, precisamos formar alianças, e elas se mostraram inviáveis¿, afirmou o deputado Vieira da Cunha (RS), presidente nacional em exercício da legenda.

Selar a aliança com a candidata do PT desde já, argumentam políticos do PDT, permite cobrar uma contrapartida no futuro. O PDT tem como bandeira maior a implantação de escolas de tempo integral, os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) e pretende reforçar esse projeto em caso de vitória de Dilma nas urnas.

A aproximação entre Dilma e o PDT se deu em um jantar realizado em outubro na casa da petista, que reuniu a cúpula da legenda. Mesmo com a aliança nacional, o presidente em exercício do partido ressalta que o cenário em alguns estados será diferente. ¿Não temos a pretensão de espelhar a aliança nacional nos estados¿, afirma Vieira da Cunha. Ele cita como exemplo a disputa no Maranhão, onde o PDT pretende lançar o ex-governador Jackson Lago contra a governadora Roseana Sarney (PMDB), cujo partido tem a vaga de vice na chapa governista.

Quebra-cabeça

Além das alianças para as eleições presidenciais, a reunião da Executiva do PDT discutiu ontem o cenário em algumas disputas pelos governos estaduais

Amapá Reeleito em 2006, o governador Waldez Góes (PDT) deve apoiar a candidatura de Roberto Góes (PDT), primo dele e prefeito de Macapá.

Maranhão O partido pretende lançar a candidatura de Jackson Lago, cujo mandato foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder político nas eleições de 2006.

Rio Grande do Norte O ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves filiou-se ao partido em 2009 e é a aposta da legenda para o governo potiguar.

Paraná Por uma diferença de 10,5 mil votos, o senador Osmar Dias (PDT) foi derrotado no segundo turno pelo peemedebista Roberto Requião na última eleição. Neste ano, fará nova tentativa.

Rio Grande do Sul A tendência do PDT é apoiar a candidatura do prefeito de Porto Alegre José Fogaça (PMDB) ao Palácio Piratini.

Distrito Federal Diante do suposto esquema de corrupção envolvendo integrantes do governo do DF e deputados distritais, o partido estuda lançar a candidatura do senador Cristovam Buarque ao Buriti.