Título: Crise leva fundos de private equity a se desfazer de imóveis no Brasil
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2009, Empresas, p. B1

Uma nova realidade bate à porta dos antes prósperos fundos de private equity. Quando a crise financeira começou, a primeira reação dos fundos de participação com foco no mercado imobiliário foi postergar e cancelar investimentos. Agora, porém, estão partindo para a venda dos ativos. Fundos severamente afetados lá fora, donos de carteiras robustas no Brasil, como Autonomy e Tishman Speyer, estão reavaliando a estratégia de atuação no país.

Segundo o Valor apurou, o Autonomy Investimentos, um dos fundos de private equity que mais investiu no país, colocou parte de seus ativos à venda: terrenos onde desenvolveria projetos logísticos e comerciais até alguns andares do Rochaverá, empreendimento comercial do qual são sócios. Os empreendimentos estão sendo oferecidos, principalmente, a grandes investidores pessoas físicas.

A necessidade de liquidez teria surgido depois que um dos hedge funds do Autonomy, nos Estados Unidos, sofreu uma onda de resgates no final do ano passado. O fundo tinha prazo de resgate entre seis meses e um ano e a empresa, inclusive, teve que escalonar os saques. "Foi muito comum ver, no meio dessas crise, fundos de curto prazo investindo em ativos de longo prazo", afirma fonte.

Segundo Roberto Lima, responsável pelo Autonomy no Brasil, os saques dos hedge funds não afetam os negócios no Brasil. "Os fundos hedge e a área de real estate são separadas", explica. De acordo com Lima, o fundo do Autonomy tem R$ 200 milhões e os terrenos e o Rochaverá não estão à venda. "Há um retrofit (reforma de edifício) no Rio que iremos vender assim que terminarmos o processo de locação e alguns andares que possuímos em um prédio na Barra da Tijuca", afirma. Mas este seria um bom momento para colocar ativos à venda? "É uma boa hora para comprar", admite. "Então vale gerar caixa e investir em outros ativos." Segundo fontes do mercado, no entanto, os ativos estão à venda por um valor abaixo do que foram comprados.

O Autonomy é dono de 70% da MRV Log, braço da empresa mineira para empreendimentos logísticos. "A parceria continua e os aportes necessários foram feitos pelo Autonomy", afirma Leonardo Correa, diretor de relações com investidores da MRV. "Mas dosamos a velocidade dos projetos por conta do novo ambiente."

A Tishman Speyer - empresa americana que está no Brasil desde a década de 90 e que criou um fundo com potencial para alcançar R$ 500 milhões há dois anos- passa por uma reestruturação. A companhia enfrenta problemas, pois tinha o Lehman Brothers como sócio em um dos investimentos imobiliários mais ambiciosos dos últimos tempos. Em maio de 2007, a Tishman comprou por US$ 22,2 bilhões, junto com o banco, a Archstone-Smith, segunda maior proprietária, administradora e incorporadora de apartamentos dos Estados Unidos.

A saída, oficialmente temporária, do presidente Daniel Citron suscitou rumores no mercado. Citron fez o IPO da Cyrela Brazil Realty e é um executivo respeitado no setor. A partir de hoje, Daniel Citron ficará três meses fora da companhia e, durante esse período, será substituído por Daniel Cherman, diretor de desenvolvimento comercial e o segundo na hierarquia da Tishman no Brasil. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, Citron sai de férias prolongadas por motivos pessoais.

A empresa, de acordo com fontes, colocou ativos à venda no Rio de Janeiro. "Não há nada específico à venda, mas faz parte da estratégia vender ativos diante de boas propostas", afirmou a assessoria. A companhia fez demissões pontuais - que não chegam a dez postos, informou - mas está contratando no primeiro escalão. Acaba de selecionar um novo diretor financeiro, Adalberto Bomfim da Costa, vindo da GE.