Título: BNDES tenta evitar que crise da Embraer atinja seus fornecedores
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2009, Empresas, p. B7

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse ontem que receberá esta semana as fornecedoras da Embraer . O objetivo da reunião, segundo ele, é analisar alternativas que possam ajudar as empresas do setor a manterem suas atividades nesse novo cenário de crise, agravado pelas demissões de 4,2 mil funcionários na Embraer. Ontem, o Ministério Público do Trabalho propôs a reintegração dos 4, 2 mil trabalhadores demitidos da Embraer e a abertura de negociação entre a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Ruy Baron/Valor

Coutinho, presidente do BNDES, reúne-se na quinta-feira com fornecedores da fabricante de aviões

"Queremos evitar que as dificuldades se tornem ainda mais graves, pois a sobrevivência dessas empresas tem uma importância estratégica dentro da política industrial do governo para o setor aeroespacial", afirmou. A determinação do governo nesse momento, segundo Coutinho, é para que todas as encomendas de aeronaves feitas para a Embraer se concretizem. O presidente do BNDES disse ainda que o projeto do novo avião cargueiro da Embraer, o C-390, contará com o apoio do governo. "Quando a aeronave estiver em estágio comercial o BNDES entrará com a parte de financiamento aos compradores", disse.

O representante das empresas e vice-presidente do CIESP em São José dos Campos, Ney Pasqualini, disse que durante a reunião, marcada para quinta-feira, às 10 horas, os fornecedores do setor aeronáutico vão expor ao BNDES as dificuldades enfrentadas nesse momento e as medidas necessárias para amenizar o impacto enfrentado por elas por conta da crise.

"As empresas precisam de capital de giro para dar sequência às suas atividades até que haja uma acomodação à nova realidade do mercado, que provocou uma queda de 40% na produção", disse o empresário, que também é proprietário da Winnstal, especializada em serviços de montagem e estamparia. Para passar o período de turbulência, segundo Pasqualini, as fornecedoras da Embraer vão reivindicar ao BNDES um empréstimo com carência de 12 meses.

O CIESP de São José dos Campos, segundo Pasqualini, levará uma comitiva de seis empresários locais para a reunião no BNDES. O setor aeronáutico possui 69 empresas, das quais 40 estão sediadas em São José dos Campos e empregam cerca de 5 mil pessoas. A demissão de funcionários, segundo Pasqualini, ainda não tem sido a alternativa mais utilizada pelos empresários para enfrentar a crise. "Estamos buscando outras soluções, como férias e licença remunerada, pois demitir custa caro, além de não ser a melhor opção, já que investimos alto em treinamento", explicou.

A proposta de reintegração dos funcionários da Embraer foi feita pelo procurador do Trabalho Roberto Pinto Ribeiro, em audiência de conciliação, em São José dos Campos. A empresa não se pronunciou sobre a audiência. Segundo o sindicato, ela se recusou a atender a proposta e rejeita negociar com o sindicato. Outra audiência de conciliação está marcada pela 15ª região do Tribunal Regional do Trabalho, em Campinas, na quinta-feira. Na sexta-feira, o TRT também deferiu pedido do sindicato de liminar para suspensão das demissões. Hoje o sindicato pretende sair com uma caravana de demitidos até Brasília para pressionar o governo a interferir no caso.

Coutinho participou ontem da inauguração de um laboratório de estruturas leves no Parque Tecnológico de São José dos Campos. Segundo o presidente do BNDES, a montagem do laboratório integra o objetivo da nova política industrial do governo para o setor aeroespacial, que vê com prioridade a capacitação tecnológica das empresas nacionais. "O projeto do laboratório tem poder multiplicador, ou seja, estimulará o desenvolvimento de um complexo aeroespacial e de uma cadeia de fornecedores com potencial de auxiliar, por efeitos de sinergia, indústrias de vários setores."

Trata-se do primeiro laboratório brasileiro voltado à pesquisa de estruturas leves para aviação, o que ajudará o país a dominar tecnologias essenciais para o desenvolvimento de novos materiais, capazes de reduzir o peso das aeronaves. (Colaborou Marli Olmos, de São Paulo)