Título: Para setor têxtil argentino, cotas são boa solução
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2009, Brasil, p. A4
A indústria têxtil argentina vê com bons olhos a proposta brasileira de estabelecer um controle negociado das exportações por cotas. "Parece uma proposta saudável", disse Jorge Sorabilla, secretário-geral da Fundação Pro Tejer, principal entidade da indústria têxtil. Sorabilla estará na reunião do dia 12 em Buenos Aires entre empresários e funcionários de ambos os governos para discutir a queda do comércio e a onda protecionista que se levantou com a crise internacional.
Na quinta-feira o Ministério da Produção da Argentina divulgou a Resolução 61 que amplia em 58 o número de produtos sujeitos a licenciamento não-automático para entrar no país. Com ela, o número de produtos originários do Brasil sujeitos a licença não-automática, medidas antidumping, compromissos de preços e comércio "vigiado" subiu para 536, num total US$ 2,534 bilhões, o que corresponde a 14,1% da pauta de importação, segundo cálculos da consultoria Abeceb.com.
Os produtos incluídos na Resolução (talheres, móveis, têxteis, máquinas agrícolas) representam US$ 640 milhões em importações do Brasil ou 3,6% do total. A nova lista se soma a uma quantidade de produtos monitorados por acordos bilaterais vigentes desde 2002 (veja quadro ao lado).
Sorabilla disse que vai levar para o encontro o apoio da indústria às medidas restritivas tomadas pelo governo argentino e um pedido de que os brasileiros tenham paciência com um momento difícil. O setor têxtil foi um dos mais protegidos nos últimos três meses pelas barreiras levantadas pelo governo argentino às importações, que já atingem cerca de 60% dos têxteis importados.
Os representantes do setor vão levar à reunião números apontando que a indústria têxtil brasileira, que é quatro vezes maior que a argentina, acumula US$ 1,6 bilhão em superávits comerciais com o vizinho nos últimos cinco anos. No ano passado o Brasil vendeu US$ 570 milhões à Argentina e comprou apenas US$ 203 milhões. "Quando a economia estava em alta, não havia problema em compartilhar nosso mercado", disse o executivo da Pro Tejer. Agora, com a demanda em queda, o temor dos industriais argentinos é receberem o excedente de exportações, não só do Brasil, mas de outros países mais competitivos. Ele concorda com os brasileiros, entretanto, que não se pode fechar o mercado ao Brasil e abrir a terceiros países. "Temos que gerar com o Brasil uma mesa de entendimento e tratar que o espaço que eles deixem não seja ocupado por asiáticos."
Outro setor que apóia as medidas protecionistas é o de máquinas agrícolas. José Maria Alustiza, presidente da Câmara Argentina de Fabricantes de Maquinaria Agrícola (Cafma), disse na sexta-feira que o licenciamento não-automático para colheitadeiras e tratores, incluído na Resolução 61, "é uma boa notícia". "Porém", frisou, "insignificante diante da crise que vivemos".
A derrubada dos preços dos produtos agrícolas somada à seca que atingiu o país entre dezembro e fevereiro, fez despencar as vendas de máquinas agrícolas. Segundo dados da Cafma, o volume de vendas caiu entre 80% e 90% só no primeiro bimestre de 2009. E para piorar o quadro, disse Alustiza, o pouco mercado que sobrou foi tomado por produtos importados, fazendo com que as cerca de 600 empresas argentinas dedicadas ao setor, direta e indiretamente, tivessem uma queda de sua participação no mercado de colheitadeiras de 25% em 2007 para 13% em 2008.
O protecionismo argentino gerou queixas também do Uruguai e da China. O governo uruguaio convocou uma reunião do Conselho Interministerial de Assessoria ao Comércio Exterior para discutir os impactos das barreiras à exportação de têxteis. E o presidente Tabaré Vázquez vai levar uma queixa à reunião que manterá dia 12 em Brasília com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao jornal "La Nación", o Conselheiro Econômico e Comercial da Embaixada da China em Buenos Aires, Shidi Yang, criticou as barreiras argentinas e disse que seu país está sendo tratado com discriminação, contrariando o que foi prometido pelo ex-presidente Nestor Kirchner em 2004 ao premiê Hu Jintao. "Muitos produtos chineses estão sendo afetados, estamos preocupados", afirmou Yang.