Título: CPI dos Grampos ganha sobrevida
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Fonte: Valor Econômico, 09/03/2009, Política, p. A6
Às vésperas da votação de seu relatório final, a CPI dos Grampos voltou ao centro da agenda política e deverá ganhar sobrevida após as denúncias de que o delegado Protógenes Queiroz investigou clandestinamente a vida amorosa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ex-presidente Fernando Henrique e até um dos filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), convocou uma reunião para hoje à tarde a fim de avaliar as denúncias, publicadas pela revista "Veja".
O assunto será analisado com o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), que defende sua prorrogação por mais 60 dias, e o relator, Nelson Pellegrino (PT-BA). A discussão e votação do relatório final de Pellegrino estava prevista para amanhã. Tucanos e petistas reagiram de formas opostas à possibilidade de estender as investigações.
Segundo a "Veja", materiais encontrados em um computador e um "pen drive" na casa do delegado incluem investigações e relatórios (que não estavam no inquérito da Operação Satiagraha) sobre atividades do ex-ministro José Dirceu, a atuação do ministro Mangabeira Unger para a Brasil Telecom e até a vida pessoal de Dilma. O governador de São Paulo, José Serra, também teria sido investigado.
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da CPI dos Grampos, foi enfático ao pedir mais prazo para a comissão e comparou Protógenes a Edgar Hoover, o primeiro diretor da CIA, que usava a estrutura da agência americana de inteligência para bisbilhotar e ameaçar poderosos em Washington. Para o tucano, as denúncias "talvez tenham sido o fato mais relevante, até agora, depois de que foi criada a CPI". PSDB e PPS deverão apresentar requerimento para a prorrogação da comissão por, no mínimo, 30 dias.
Fruet disse que a extensão dos trabalhos é necessária por pelo menos duas razões: apurar a motivação de Protógenes nas supostas escutas ilegais e se houve consentimento de seus superiores. "A estrutura do Estado foi usada para uma investigação paralela e a estrutura envolvida não foi pequena", disse.
Os documentos que pertenceriam a Protógenes foram encaminhados à CPI na semana passada. Estão guardados e ainda não foram abertos. Isso deve ocorrer entre hoje e amanhã. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), pediu cautela no tratamento das denúncias. Ele é citado em um dos documentos clandestinos do delegado (do qual a revista reproduz apenas seis linhas) como beneficiário - junto com José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério e outras três pessoas - de um pagamento de R$ 800 milhões para indenizar prejudicados pelo vazamento de óleo no Rio, em 2000.
Além de negar qualquer envolvimento, Vaccarezza disse que, antes, é preciso averiguar se os documentos citados são verdadeiros, como houve o vazamento e as motivações. Para ele, "há limites do que se pode divulgar e como fazer isso". Ele afirmou que não é contra a prorrogação da CPI, mas entende que esse não deve ser o foco do debate nos próximos dias. "Temos que ir devagar e antes analisar a veracidade dos documentos."
Agentes da Abin citados pela "Veja" teriam dito, no inquérito que investiga abuso de autoridade por parte de Protógenes, que usaram sistema de computador diferente ao da PF para organizar gravações telefônicas feitas com autorização judicial. Protógenes teria usado o nome de Lula para orientá-los a investigar o filho do presidente, Fábio Luís.