Título: Crise pode levar o país a se dividir
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2005, Especial, p. A12
O risco maior da atual crise política boliviana é a fragmentação do país, com conseqüências imprevisíveis. O presidente Carlos Mesa tem atuado habilmente como um ponto de equilíbrio num país profundamente dividido, étnica, política e economicamente. Sua saída pode precipitar a separação. Nos departamentos (províncias) mais ricos do país, Santa Cruz (centro do agronegócio) e Tajira (onde estão os campos de gás), há fortes movimentos separatistas. A população destas regiões é majoritariamente branca ou mestiça (ao contrário da maioria índia no altiplano) e rejeita o extremismo das lideranças indígenas. Foram protestos de grupos indígenas que precipitaram o pedido de renúncia de Mesa. Em El Alto (próximo da capital La Paz), aymarás estão bloqueando estradas contra uma empresa estrangeira concessionária do serviço de água. Já o líder socialista Evo Morales havia prometido paralisar o país esta semana, bloqueando estradas e aeroportos, caso não fosse aprovada sua proposta de elevação de 18% para 50% dos royalties pagos pelas empresas estrangeiras que exploram gás e petróleo no país. O presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que renunciou em 2003, reprimiu com violência os protestos indígenas, o que levou à sua deposição. Mesa tem evitado essa armadilha, procurando dialogar com a oposição. Aparentemente, percebeu que não havia mais diálogo e optou por colocar a oposição contra a parede, renunciando. É uma aposta arriscada.