Título: BNDES concede R$ 254 milhões à Azul para compra de jatos Embraer
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2009, Empresas, p. B4

A Azul Linhas Aéreas é a primeira empresa nacional a receber financiamento em reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para compra de aeronaves fabricadas no país. O banco concederá R$ 254 milhões para aquisição de quatro jatos.

O valor aprovado corresponde a 85% do investimento total da Azul nos quatro aviões - um Embraer 195, com 118 assentos, e três 190, com 106 lugares - de forma que os outros 15% serão pagos pela própria empresa.

Os R$ 254 milhões virão do BNDES, mas apenas metade dos recursos será fornecida pelo próprio banco. Os outros 50% serão repassados pelo Banco do Brasil, o agente financeiro. "É uma oportunidade de o agente financeiro participar da operação e de o BNDES reduzir o risco", afirmou Adely Maria Branquinho das Dores, chefe do departamento de logística do BNDES. Ela não revelou o custo total do financiamento, que será corrigido pela TJLP mais spreads do BNDES e do BB. O prazo para pagamento é de 15 anos.

Segundo Adely, o financiamento à Azul pode representar o início de uma série de outras operações com empresas aéreas que atuam no mercado doméstico. A Trip Linhas Aéreas, empresa de voos regionais, também busca financiamento com o banco para também adquirir cinco jatos da Embraer do modelo 175, sendo que o primeiro deles deve ser entregue em 16 de abril. Adely não fez comentários sobre as negociações com a Trip.

Em nota, o BNDES disse que o apoio financeiro do banco é um instrumento de estímulo à aquisição, por companhias nacionais, de aeronaves fabricadas no Brasil, com financiamento em moeda nacional, e um incentivo ao desenvolvimento de uma nova aérea no país. "A indústria aeronáutica brasileira, com ampla cadeia de fornecedores, tem importância estratégica e forte conteúdo tecnológico e de engenharia nacional", disse o banco. O movimento do BNDES ocorre um mês após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter afirmado que o governo estudaria formas de estimular a compra de jatos da Embraer por empresas brasileiras, depois que a fabricante anunciou 4,2 mil demissões.

"Estamos muito felizes em unir três parceiros brasileiros, a Azul, a Embraer e o BNDES. Esse contrato representa mais empregos, mais serviços aéreos, mais desenvolvimento para o nosso país", afirmou Gerald Lee, diretor de assuntos corporativos da Azul, em nota enviada pela empresa.

Com a nova linha de crédito, a Azul tem agora recursos suficientes para cumprir o plano de ter pelo menos 12 aviões em operação até o fim do ano - hoje, tem 9. Além dos quatro jatos financiados com BNDES e BB, a empresa já obteve financiamento para dois aviões com o banco alemão LBBW e outros dois com um parceiro que é mantido sob sigilo. Outras quatro aeronaves estão sendo arrendadas da JetBlue - companhia aérea americana fundada por David Neelman, assim como a Azul.

O estouro da crise financeira mundial e a consequente evaporação de crédito restringiu significativamente as alternativas das empresas aéreas que buscam recursos. Mas o contrato com o BNDES para uma linha em moeda nacional e financiamento de 85% do valor das aeronaves foram condições bastante boas, segundo uma fonte da Azul. Adely, do BNDES, avaliou que a tramitação do financiamento no banco foi rápida considerando-se que o pedido de empréstimo foi feito no fim de 2008.

Ontem, governadores da região Nordeste e o governo federal aceitaram as propostas apresentadas pela Azul e pela Trip para ampliar a malha de voos nordestina em troca de isenção de impostos - ICMS sobre o querosene de aviação - e financiamento para a compra de jatos. No caso da Trip, o Banco do Nordeste, via Sudene, seria o agente financeiro para a compra de aviões. Segundo uma fonte da Azul, contudo, a implantação de mais voos no Nordeste ainda precisa passar por estudos de rentabilidade. (Colaborou César Felício, de Belo Horizonte)