Título: IPCA sobe menos em março, mas analistas preveem aceleração em abril
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Fonte: Valor Econômico, 09/04/2009, Brasil, p. A2
A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou variação positiva de 0,2% em março, 0,35 ponto percentual abaixo da taxa verificada em fevereiro, acompanhando as expectativas do mercado. Para abril, economistas preveem alta entre 0,35% e 0,4%, em função de reajustes em tarifas de energia e de produtos farmacêuticos, alta do grupo vestuário e repasse do aumento do IPI sobre cigarros. Ainda assim, as previsões para o IPCA no ano variam entre 3,5% e 4,5%, garantindo ao Banco Central um cenário favorável para a redução da taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual já na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), avaliaram analistas.
A inflação mais baixa em março, conforme o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ocorreu graças à desaceleração do grupo educação, que em fevereiro havia subido 4,77% e no mês passado registrou deflação de 0,37%. Também contribuíram para a desaceleração do IPCA os grupos saúde, que passou de 0,46% para 0,37%, e transportes, que subia 0,24% em fevereiro e teve queda de 0,07% em março com deflação em automóveis por conta da redução do IPI e em combustíveis.
"A demanda retraída não permitiu um repasse forte de preço e os contratos foram revistos. Essa queda ajuda a compor um quadro de desaceleração nos preços de serviços que não é normal para o período", afirmou o analista da Rosenberg & Associados, Francis Kinder. Ele prevê alta de 0,4% para o IPCA em abril devido a fatores sazonais e, em função do cenário de inflação controlada (com projeção de 3,5% no ano) e de desempenho econômico fraco, o Banco Central reduzirá a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual já neste mês.
O economista e estrategista do banco de investimentos Barclays Capital, Paulo Mateus, também projeta para o ano alta de 3,5% no IPCA e redução da Selic em 1,5 ponto percentual. Mateus observou que não houve uma desaceleração muito forte em março, tanto que os núcleos por médias aparadas e por suavização variaram 0,06 ponto percentual, ficando em 0,35% e 0,21%, respectivamente. "A inflação está sob controle. Com esse cenário e a demanda fraca, faz sentido um corte mais agressivo na Selic na taxa de juros."
A economista-chefe do Banco ING Zeina Latif tem visão semelhante. Para ela, a inflação converge para a meta, mas alguns itens ainda estão resistentes à queda, sobretudo dos grupos de serviços e administrados. "Excluindo alimentos e automóveis, fica claro que a inflação se mantém rígida", ponderou. Na avaliação de Zeina, os indicadores de inflação divulgados nesta semana não trazem elementos novos que justifiquem uma redução mais expressiva da taxa básica de juros. "Esses dados dão tranquilidade para o Banco Central em relação às decisões já tomadas, mas não abrem espaço enorme para um relaxamento na política monetária."
Para economista Fábio Romão, da LCA Consultores, a inflação controlada favorece o corte de 1,5 ponto percentual na Selic, embora a consultoria espere redução de 1 ponto. Ele estima para o IPCA de abril alta de 0,41%, com reajuste nos preços de produtos farmacêuticos e em itens do grupo de preços administrados. Para o segundo trimestre, a previsão é de alta de 1,1%, ante 2,1% no mesmo período de 2008. No primeiro trimestre, o IPCA acumulou alta de 1,23%, menor índice para o período desde 2000. O resultado foi influenciado pela queda nos preços de automóveis novos e usados, que juntos tiveram contribuição negativa de 0,19 ponto percentual no índice total e pela queda nos preços das carnes, com influência de 0,11 ponto.
Romão espera desaceleração no varejo, tendo por base a atividade econômica mais fraca e o repasse da deflação do atacado para o varejo. A primeira prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), divulgada pela Fundação Getulio Vargas, registrou queda de 0,53%, com queda de 0,94% nos preços no atacado. A inflação do varejo medida pelo IPC, acelerou de 0,03% para 0,42%. E os preços da construção tiveram queda de 0,08%.