Título: Desgaste político de ajuste na poupança preocupa Planalto
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2009, Política, p. A9

O governo está preocupado com a exploração política que a oposição planeja fazer sobre as mudanças nas regras de correção da caderneta de poupança. O Palácio do Planalto, segundo informou um ministro ao Valor, tem informações de que os três principais partidos de oposição - PSDB, DEM e PPS - esperam apenas o anúncio das alterações na poupança para divulgar campanhas publicitárias criticando a decisão.

"Não contem com o nosso silêncio", disse o presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ). O governo está bem-informado: PSDB, DEM e PPS se articulam para enfrentar a mudança com campanhas que irão além do tradicional, como os programas semestrais de televisão e rádio. A ideia é usar a Internet. Deve ser criado um portal da oposição. Vídeos serão colocados no Youtube. A oposição enxerga na medida uma "janela de oportunidade" para desgastar politicamente o governo e não pretendem abrir mão dela.

A mudança de regra de cálculo da poupança é considerada imperativa porque, com a queda da taxa básica de juros (Selic) abaixo de um determinado nível, os investidores tendem a migrar dos fundos de investimento para as cadernetas de poupança, em busca de uma remuneração mais alta. Se houver uma fuga em massa das aplicações, o Tesouro Nacional terá dificuldade para rolar a dívida pública, uma vez que os fundos de investimento aplicam em títulos públicos.

A preocupação do governo com a oposição estaria, segundo um ministro, retardando os estudos para alterar a forma de cálculo da poupança. Algumas mudanças podem ser feitas sem necessidade de consulta ao Congresso, mas a mais importante delas - a redução da taxa de juros que remunera as cadernetas, fixada hoje em 6,17% ao ano - depende de modificação da legislação vigente. "O presidente Lula está preocupado porque é o eleitorado dele que será atingido pelas mudanças. É uma preocupação correta e legítima", disse um ministro.

Fontes do governo temem que a oposição compare as mudanças nas regras da poupança ao confisco promovido pelo governo Collor em 1990. Um ministro próximo do presidente Lula sustentou que a comparação é indevida e que, se for feita, será desmoralizada pelos fatos que o governo apresentará para justificar as mudanças.

O governo tem consciência, no entanto, de que a alteração das regras vai gerar desgaste. Atualmente, de acordo com dados oficiais, 56% dos investidores em poupança - cerca de 45 milhões de pessoas - têm depósitos de no máximo R$ 100 nas cadernetas. Ampliando-se o leque, cerca de 93% dos aplicadores investem até R$ 5 mil. Até o momento, a migração de recursos dos fundos de investimento para a poupança foi marginal.

Por causa da crise, a taxa Selic caiu 2,5 pontos percentuais nas últimas duas reuniões - para 11,25% ao ano - e a tendência, segundo expectativa do mercado e de sinalização feita pelo Banco Central, é que ela sofra novos cortes nas próximas reuniões. Com isso, a poupança, que isenta os aplicadores do pagamento de Imposto de Renda, vai se tornar mais atrativa.