Título: DF manda ajuda
Autor: Seixas, Maria Fernanda
Fonte: Correio Braziliense, 15/01/2010, Mundo, p. 18

Bombeiros e médicos partem para a capital haitiana, onde se somarão aos esforços na busca por soterrados nos escombros

Com a bandeira brasileira nas mãos, bombeiros embarcam em Boeing 707 KC-137, na Base Aérea Militar de Brasília: envio de 17t de suprimentos

Ovacionados por parentes, colegas e amigos, 21 bombeiros do Distrito Federal e cinco membros da equipe médica do Hospital da Aeronáutica de Brasília se juntaram, na tarde de ontem, a 30 bombeiros do Rio de Janeiro e partiram rumo ao Haiti. A equipe brasiliense, que decolou por volta das 16h30 da Base Aérea Militar de Brasília em um Boeing 707 KC-137, pertence ao grupo de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (Brec) e foi convocada às presas na noite de quarta-feira. O avião faria escala em Boa Vista (RR) e esperava-se que pousasse ainda ontem no aeroporto de Porto Príncipe.

Com eles, embarcaram 17t de suprimentos e equipamentos de resgate, como martelos rompedores, motosserras, cabos de aço e macacos hidráulicos, além de quatro cães farejadores da equipe do Rio de Janeiro. Outros quatro cães de Brasília e seus treinadores também embarcariam hoje, mas foram barrados pelo excesso de peso na aeronave e devem viajar no próximo voo para o Haiti. Inicialmente, a decolagem estava prevista para as 10h da manhã. No entanto, como 17 dos 25 bombeiros do DF estavam com os passaportes vencidos ou mesmo não portavam o documento, a equipe perdeu a manhã resolvendo a questão com o Itamaraty.

Durante a preparação da aeronave, os bombeiros estavam visivelmente ansiosos para chegar ao destino e iniciar as buscas. ¿Acompanhamos pela televisão a situação dos nossos colegas, e a vontade de chegar e poder atender o mais rápido possível é muito grande. Na minha opinião, já estamos demorando muito. Já devíamos estar lá, trabalhando¿, opinou o primeiro sargento Cléber Santos. A equipe ainda não tem expectativas de retorno, tampouco sabe onde ficará alojada em Porto Príncipe. ¿A única coisa que sei com relação à locação é que dormirei no saco de dormir que estou levando¿, brincou o sargento Sebastião Júnior, que carregava na pochete fotos 3x4 dos quatro filhos e da mulher. Segundo informações preliminares, o Exército brasileiro dará apoio aos bombeiros na questão do alojamento.

Durante o embarque, familiares de alguns membros da equipe de salvamento apareceram no hangar da base aérea para a despedida. Visivelmente emocionados, tiraram fotos e fizeram uma corrente de oração. ¿Sabemos que eles não estão indo para um conflito de guerra, e que irão salvar muitas vidas, mas é natural que todo mundo fique com o coração apertado¿, declarou Luiz Rasia, pai do 1º tenente Rodrigo Rasia, de apenas 24 anos. ¿Apesar da saudade e da apreensão, a gente também sente muito orgulho. São como heróis¿, completou Meiriely Ferreira da Silva, mulher do sargento Cléber dos Santos, ressaltando que essa é a primeira missão internacional do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.

Hoje, também embarcou rumo ao Haiti outro avião da FAB, que transporta o Hospital de Campanha (Hcamp) e 45 profissionais de saúde da Aeronáutica. O Hcamp funciona como um hospital móvel e comporta uma unidade de terapia intensiva (UTI), aparelhos de raios X, centros cirúrgicos e ambulatórios.

Veja vídeo sobre a preparação dos bombeiros para a viagem

Vocação e solidariedade Carlos Silva/Esp. CB/D.A Ivan se despede da mãe, Vanda: ¿Vidas alheias, riquezas a salvar¿

As últimas horas que antecederam o embarque dos bombeiros do Brec foram permeadas por muita correria e comoção dos familiares. Na noite de quarta-feira, Janaína Ferreira, 29 anos, irmã do bombeiro do grupo de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (Brec), o capitão Ivan Luiz Santos, 34, assistia à TV quando o irmão entrou com pressa em casa, avisando que embarcaria no dia seguinte para o Haiti. A namorada de Ivan, chorosa, o acompanhava e, juntos, arrumaram rapidamente uma mochila com fardas, roupas íntimas e artigos de higiene pessoal.

Nesse meio tempo, Ivan telefonou para os pais, João dos Santos, 60, e Vanda dos Santos, 60, e comunicou que iria para o Haiti a trabalho. Ambos ainda não sabiam da catástrofe ocorrida na última terça-feira na ilha caribenha. Desligaram o telefone e foram conversar com os amigos. Só então perceberam a gravidade da tragédia. ¿Liguei de novo para o Ivan e ele explicou a missão com mais calma. Acho que ele não falou nada antes com medo da nossa reação. Passei a ligação para minha mulher e foi aí que senti o coração acelerar. Mas, agora, a gente sente muita felicidade por vê-lo embarcando nessa missão tão importante¿, declarou o pai, João.

Para Vanda, a ida do filho não é surpresa. ¿Ele sempre teve essa vocação de salvar vidas. Com três anos, já falava para mim que seria bombeiro quando crescesse. Colocamos ele na escolinha de escoteiros e, desde então, ele nunca mais parou de ajudar as pessoas¿, lembra. Antes de embarcar, Ivan mandou a seguinte mensagem de texto para o celular dos familiares: ¿Obrigado a todos pelo apoio nesse momento tão especial. O Haiti precisa de todo o apoio possível. Vidas alheias, riquezas a salvar¿. (MFS)