Título: Ações caem 8% com temor de ingerência política
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Fonte: Valor Econômico, 09/04/2009, Finanças, p. C1

A mudança repentina de comando no Banco do Brasil desagradou os investidores e as ações do banco tiveram ontem a maior queda do dia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O papel fechou em baixa de 8,1%, cotado a R$ 17,35. A queda ocorreu no mesmo pregão em que o Ibovespa, principal índice da bolsa, subiu 0,82%.

O principal temor dos analistas é que a troca de presidentes signifique uma maior interferência política na gestão do BB. O banco está listado no Novo Mercado, segmento da bolsa que exige práticas diferenciadas de governança corporativa.

Laura Lyra Schuch, analista de ações da corretora Ativa, fala que a preocupação dos analistas é de que o novo presidente possa virar uma "marionete" do governo e fazer ações que possam comprometer a rentabilidade do banco. "Não consigo recomendar a compra de um papel com esse nível de interferência."

Segundo Laura, o banco pode ser forçado a emprestar mais, para mais gente e a taxas mais baixas. O resultado pode ser um aumento da inadimplência que, em última instância, compromete os números do banco, que teve o ganho recorde em 2008 e um dos maiores lucros do setor bancário no país (R$ 8,8 bilhões). Essa era a justificativa do comitê de gestão do banco, diz a analista, que temia baixar mais as taxas e ocorrer explosão de calotes.

Ricardo Tadeu Martins, analista da corretora Planner, fala que a mudança brusca foi recebida nas mesas de operação como uma imposição do governo que pode vir a comprometer o balanço do BB. A notícia, diz ele, trouxe a tona lembranças do passado, quando o banco era usado constantemente como instrumento político. Em meio às dúvidas sobre o futuro do banco, os investidores aproveitaram para vender as ações e realizar lucros.

O papel do BB era o que mais subia na bolsa entre os bancos grandes até anteontem, com alta de 33% no acumulado do ano. No mesmo período, os papéis do Bradesco tinham alta de 11% e os do Itaú Unibanco de 10%. "A dúvida é se essa pressão política pode comprometer a rentabilidade do Banco do Brasil", diz Martins.

Relatório do Bank of America Merrill Lynch avaliando as mudanças argumenta que o mercado exagerou no pessimismo e reitera a recomendação de compra para a ação do BB. A análise destaca que o raio de interferência do governo no banco pode ser limitado, na medida em que o BB paga dividendos polpudos ao Tesouro Nacional, além dos impostos ao governo. "O governo está bem consciente da importância do banco nas contas públicas. Assim, achamos difícil de prever que o governo arriscaria essa fonte de receita", destaca o relatório.

Os analistas do mercado já vinham avaliando o papel recentemente levando em conta um maior uso do BB pelo governo para conter os efeitos da crise no país. A Merrill Lynch avalia que o desconto que as ações do BB estão sendo negociadas em relação a seus principais competidores, de 33%, é muito alto e deveria cair para a casa dos 20%. O preço alto para as ações é de R$ 22. "Continuamos acreditando no compromisso do BB com a lucratividade no longo prazo", conclui o relatório, distribuído ontem a clientes dos Bank of America Merrill Lynch.