Título: Mais três vítimas confirmadas
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 15/01/2010, Mundo, p. 21

Exército anuncia novas mortes de militares, todos lotados no batalhão de Lorena (SP), elevando para 15 o número de brasileiros que perderam a vida no desastre. Há pelo menos cinco desaparecidos

Subiu para 15 o número de brasileiros mortos no Haiti, vítimas do terremoto que assolou o país na terça-feira passada. Além da pediatra Zilda Arns, perderam a vida 14 militares que prestavam serviço na base do Exército, em Porto Príncipe, sendo que 10 deles eram lotados em um só quartel no interior de São Paulo. Outros quatro militares ¿ sendo três de Brasília ¿ estão desaparecidos, além de Luiz Carlos Costa, brasileiro que era o subchefe da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti. Segundo o Comando do Exército, 25 soldados estão feridos, a maioria com escoriações leves.

Na quarta-feira, o Exército havia contabilizado 11 baixas nas tropas. Todos os militares estavam na Base General Bacellar ¿ sede do Exército brasileiro no Haiti ¿ quando ocorreu o terremoto. No Hotel Cristopher, onde funcionava a Minustah, a Força de Paz Internacional, morreu o coronel Emílio Carlos Torres dos Santos, que servia em Brasília e estava em Porto Príncipe pela segunda vez. No mesmo local, havia vários servidores civis da ONU, além de chefes militares estrangeiros.

O Comando do Exército anunciou ontem a morte de mais três militares. Além dos sete integrantes do 5º Batalhão de Infantaria Leve de Lorena (SP), que tiveram a morte confirmada na quarta-feira, foram achados os corpos do sargento Rodrigo de Souza Lima e dos soldados Felipe Gonçalves Júlio e Rodrigo Augusto da Silva, que também pertenciam à guarnição e deveriam retornar ao Brasil nos próximos dias. O Exército não informou quando os corpos dos militares seriam transladados para suas cidades. O comandante da unidade onde serviam foi proibido de dar entrevistas.

Além do representante brasileiro na ONU, o Comando do Exército informou que estão desaparecidos quatro oficiais que também estavam no quartel da Minustah, no Hotel Cristopher, sendo três deles de Brasília. O coronel João Eliseu Souza Zanin e o tenente-coronel Marcus Vinícius Macedo Cysneiros serviam no gabinete do comandante do Exército. O major Francisco Adolfo Vianna Martins Filho pertencia ao Departamento-Geral de Pessoal, também na capital. Outro major desaparecido, Márcio Guimarães Martins, é do Comando de Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro.

Socorro

No quartel brasileiro no Haiti, estão internados 22 militares, a maioria com ferimentos leves e escoriações, algumas provocadas durante as operações de socorro às vítimas do terremoto. Um integrante do Exército brasileiro foi removido para o hospital da delegação argentina e dois foram levados para Santo Domingo, na República Dominicana. O Comando do Exército não informou as condições das vítimas que foram transferidas para o outro país.

Durante a visita que fez ontem aos feridos na base brasileira, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e os comandantes do Exército, general Enzo Peri, e da Marinha, almirante Moura Neto, encontraram vários militares desolados com a perda de companheiros. Segundo a assessoria de Jobim, o ministro agradeceu o empenho da tropa e desejou a pronta recuperação dos feridos. Em frente à base, as autoridades vislumbraram um outro cenário: centenas de pessoas buscando atendimento dos médicos militares, iluminados apenas por holofotes de emergência. No hospital improvisado embaixo de uma garagem, a prioridade eram os casos mais graves.

Retorno dos sobreviventes

Ullisses Campbell

São Paulo ¿ Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) voará hoje para o Haiti com o objetivo de levar amanhã a São Paulo os militares que integram o 5º Batalhão de Infantaria Leve, instalado em Lorena (SP). A volta já estava programada, o que aumenta ainda mais a dor dos familiares das vítimas. O terremoto ocorreu apenas alguns dias antes do retorno dos 10 homens lotados na cidade que perderam a vida na tragédia. Por causa de problemas de documentação, no entanto, ainda não há previsão para a chegada dos corpos.

De acordo com o coronel Cardoso Martins, comandante do batalhão, a prioridade número zero é garantir a volta com segurança dos sobreviventes ao país. ¿Estamos torcendo para que os nossos homens que ainda estão lá consigam voltar ao Brasil a salvo¿, disse ontem, durante entrevista coletiva. O maior problema que os sobreviventes enfrentam, segundo diz, é que os serviços básicos, como energia elétrica, água e telefone, estão parcialmente destruídos.

Um dos mortos no Haiti é o primeiro-tenente Bruno Ribeiro Mário, 27 anos. Ele acompanhava a médica Zilda Arns a uma igreja quando ocorreu o terremoto. O militar foi atingido por uma pedra e morreu três horas depois por falta de socorro. Bruno falava com familiares quase todos os dias pela internet. No último contato, na segunda-feira, lembrou o pai, Alacir Mário, que faltavam poucos dias para o fim de sua missão de seis meses e para seu aniversário ¿ o jovem nasceu em 8 de fevereiro. O primeiro-tenente nasceu em São Gabriel, no Rio Grande do Sul. Havia se formado na academia três anos atrás e foi transferido em 2008 para o 5º Batalhão de Infantaria Leve, no interior de São Paulo. Ir para o Haiti atuar como voluntário foi uma escolha pessoal.

Orgulho

Assim como Bruno, o segundo sargento Davi Ramos de Lima, 37 anos, também se ofereceu para ir em missão para o Haiti e retornaria amanhã. Considerado orgulho da família, era filho de militar. ¿Dos meus nove filhos, foi o único que seguiu carreira no Exército. Gostava das missões onde podia fazer trabalhos voluntários¿, conta o pai, Amaro Augusto de Lima, coronel da reserva.

Amaro suspeita que Davi também integrasse a escolta de Zilda Arns, pois ele já tinha feito contato com ela em outras missões no Haiti. O corpo do sargento foi encontrado na mesma região em que a fundadora da Pastoral da Criança ministrou uma palestra. ¿Provavelmente ele fazia a segurança da médica Zilda Arns. Ainda não temos essa informação confirmada, mas os corpos foram encontrados na mesma região e quatro militares faziam a escolta dela¿, diz.

Estamos torcendo para que os nossos homens que ainda estão lá consigam voltar ao Brasil a salvo¿

Coronel Cardoso Martins,comandante do 5º Batalhão de Infantaria Leve

Dificuldade para obter informações

Ricardo Allan

O Núcleo de Assistência a Brasileiros no Exterior (NAC), do Ministério das Relações Exteriores, já recebeu mais de 500 ligações com pedidos de informação sobre civis e militares que estavam no Haiti no momento dos terremotos que arrasaram o país. Como as comunicações ainda estão muito precárias, o serviço continua com dificuldades para conseguir contato. Até agora, o governo só conseguiu localizar cerca de 30 pessoas. Na maioria das vezes, os 15 funcionários do Itamaraty que se revezam no atendimento têm pouco a dizer sobre o paradeiro dos familiares e amigos de quem recorre à equipe.

Segundo o subsecretário das Comunidades Brasileiras no Exterior, embaixador Oto Agripino Maia, a destruição da rede telefônica haitiana está prejudicando o trabalho. Algumas vezes, é possível obter informações pela internet ou pela equipe do Ministério da Defesa que chegou na quarta-feira à noite a Porto Príncipe. Todas as solicitações são registradas num sistema eletrônico para que os diplomatas brasileiros no Haiti possam buscar notícias sobre os brasileiros. A busca é dificultada pelas condições do país, que está em escombros, com ruas e estradas intransitáveis.

O prédio da embaixada está totalmente danificado, sem possibilidade de uso. Por isso, os três diplomatas e quatro funcionários da missão estão trabalhando num centro cultural brasileiro na capital haitiana. ¿O trabalho está muito difícil, mas nosso pessoal está fazendo um esforço heroico de aguentar a pressão¿, disse Maia.

ATENDIMENTO

Núcleo de Assistência a Brasileiros no Exterior (NAC) Telefones: Das 8h às 20h: (61) 3411-8803, 3411-8804, 3411-8805, 3411-8809, 3411-8817, 3411-8818, 3411-6270 e 3411-9718 Depois das 20h: (61) 8197-2284 Fax: 3411-8800 E-mail: dac@mre.gov.br

Vidas perdidas

Veja quem eram os brasileiros cuja morte foi confirmada

Antonio José Anacleto soldado do Exército, servia no 5º Batalhão de Infantaria Leve em Lorena (SP)

Ari Dirceu Fernandes Júnior cabo do Exército, natural de São Vicente (SP). Servia no 2º Batalhão de Infantaria Leve de São Vicente (SP)

Bruno Ribeiro Mário, 26 anos primeiro-tenente do Exército, nasceu em São Gabriel (RS). Servia no 5º Batalhão de Infantaria Leve, em Lorena (SP)

Davi Ramos de Lima, 37 anos segundo-sargento do Exército. Nasceu em Garanhuns (PE) e era lotado no 5° Batalhão de Infantaria de Lorena (SP), onde morava. Era casado e pai de 3 filhos

Douglas Pedrotti Neckel cabo do Exército, servia no 5º Batalhão de Infantaria Leve em Lorena (SP). Nasceu em Cruz Alta (RS)

Emilio Carlos Torres dos Santos coronel do Exército do Gabinete do Comandante do Exército, sediado em Brasília (DF). Morador da Asa Norte, deixou mulher e duas filhas

Felipe Gonçalves Julio soldado do 5º Batalhão de Infantaria Leve, de Lorena (SP)

Kleber da Silva Santos soldado do Exército. Servia no 2º Batalhão de Infantaria Leve de São Vicente (SP), cidade onde nasceu

Leonardo de Castro Carvalho segundo-sargento do Exército. Servia no 5º Batalhão de Infantaria Leve em Lorena (SP).

Raniel Batista de Camargos subtenente do Exército. Mineiro de Patos de Minas, servia no 37º Batalhão de Infantaria Leve, sediado em Lins (SP)

Rodrigo Augusto da Silva soldado do 5º Batalhão de Infantaria Leve, sediado em Lorena (SP)

Rodrigo de Souza Lima terceiro-sargento do 5º Batalhão de Infantaria Leve, sediado em Lorena (SP)

Tiago Anaya Detimermani, 23 anos soldado do Exército, natural de Cachoeira Paulista (SP). Também servia no 5º Batalhão de Infantaria Leve em Lorena (SP). Era casado e sem filhos

Washington Luis de Souza Seraphin cabo do Exército, também servia no 5º Batalhão de Infantaria Leve em Lorena (SP)

Zilda Arns, 75 anos médica sanitarista, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa