Título: G-10 alerta para a subavaliação dos riscos nos mercados internacionais
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2005, Finanças, p. C2

O G-10, reunindo os principais bancos centrais do planeta, alertou ontem que o baixo nível dos rendimentos de bônus é preocupante e exige monitoramento, porque pode indicar uma subavaliação dos riscos nos mercados financeiros internacionais. "Taxas de juros baixas, baixo nível de antecipação inflacionista, rendimentos baixos em geral, baixa volatilidade, tudo isso pode ser interpretado como subestimação dos riscos e incita ao monitoramento" , avaliou Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu e porta-voz do G-10. Já o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, que participou da reunião sobre a economia global ontem, no Banco de Compensações Internacionais (BIS), destacou que a liquidez continua bastante alta e mantém-se a perspectiva de que a aversão a risco vai continuar baixa. Significa que o fluxo de recursos para mercados emergentes deve continuar favorável. "Não se prevêem aumentos, mas não há também nenhuma previsão de mudança de fluxo abrupta" , declarou. A avaliação dos banqueiros é de que a economia global crescerá menos do que no ano passado, mas será robusto, apesar da morosidade na zona euro, com retomada modesta de investimentos e consumo. Alguns aspectos na área financeira foram destacados ontem, no BIS. Por exemplo, em alguns países muitas empresas, em função da evolução da economia recente, estão tendo lucros importantes e necessitam captar menos recursos. Na Alemanha, a economia não está crescendo, mas as empresas estão indo muito bem. Isso fez com que no agregado a demanda por crédito por parte das companhias caia um pouco. Ao mesmo tempo, os países que estão acumulando reservas, como a China, têm esse mesmo fenômeno. Jean-Claude Trichet destacou também a tendência de deterioração na parte fiscal tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Meirelles assinalou, por sua parte, que movimento para privatização da poupança, conjugado com maior credibilidade dos regimes de meta de inflação no mundo, faz com que a expectativa de inflação nos próximos dez anos caia. Assim, existe maior confiança de compra de títulos prefixados de longo prazo, especialmente da parte de fundos de pensão e de seguradoras. O premio de risco está menor no mundo, com menos inflação e previsibilidade econômica maior. Trichet chamou a atenção de que as oscilações cambiais têm tido pouco impacto sobre o nível de preços. "Os preços são mais fixados em bases domésticas", disse o presidente do BCE. Meirelles foi mais prudente, observando que varias hipóteses foram discutidas sobre esse ponto. Uma delas é que a depreciação está concentrada em algumas moedas, como no dólar americano. A China compete cada vez mais, e coloca pressão na formação de preços dos demais países. Além disso, existe a questão de margem de lucro dos importadores, que estava aparentemente muito alta. Agora, esses importadores absorvem perdas de margem, mas ainda mantêm posição lucrativa. Tem também a mudança no varejo em muitos países. Em conclusão, não se sabe qual o comportamento dos preços na medida em que houver reversões em movimentos de moedas.