Título: Mercados: DI reforça aposta em Selic a 19%
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2005, Finanças, p. C2
O mercado futuro de juros da BM & F ignorou ontem a piora nas expectativas de inflação para este ano revelada pela mais recente pesquisa Focus. Após três semanas em queda consecutiva, o IPCA previsto para 2005 pela centena de instituições informantes do Banco Central subiu para 5,72%. No relatório anterior, a projeção havia caído de 5,70% para 5,68%. A alta reflete o reajuste da passagem de ônibus em São Paulo. E, para o mercado, a inflação mais elevada - o que significa dizer mais distante ainda da meta ajustada do BC, de 5,1% -não terá impacto monetário negativo. Para os negócios efetivos fechados no DI futuro, o Focus foi irrelevante. Não só o avanço no prognóstico de inflação, como também a nova estimativa de que a Selic subirá para 19,25% na próxima reunião do Copom, marcada para o dia 16, tranco de 0,50 ponto percentual em relação à atual taxa básica, de 18,75%. No boletim precedente, a previsão era de alta menor, de 0,25 ponto. As expectativas do Focus mostram-se coerentes entre si. Se a inflação será mais alta, naturalmente o Copom não admitirá uma flexibilização monetária na reunião de março. Para tesoureiros que fecham negócios no DI futuro, o Focus ainda não conseguiu refletir de forma disseminada a percepção de uma parte do mercado segundo a qual o BC irá encerrar o aperto monetário desencadeado em setembro com alta de 0,25 ponto independentemente de as expectativas de mercado estarem ou não desgarrando da meta de 5,1%. A impressão dos economistas que freqüentaram, na quinta-feira, as reuniões com diretores do BC é que a decisão está tomada: a Selic subirá para 19% e ficará nesse patamar até setembro, último mês do terceiro trimestre. No primeiro do quarto, retomará a via de baixa. Esta percepção derivou do grau de despreocupação da diretoria do BC com a eventualidade de a inflação fechar o ano acima da meta de 5,1%. Oficialmente, a meta é para ser cumprida e, desde setembro, com a alta de 2,75 pontos acumulada pela Selic, demonstrou seriedade com esse compromisso, mas se o IPCA encerrar o ano a 6% não será nenhuma tragédia. Afinal, essa variação está abaixo do teto da banda de flutuante, de 7%, e aquém do IPCA de 2004, de 7,6%. As operações fechadas ontem no DI futuro foram mais compatíveis com essa percepção do que com os novos dados do Focus. O contrato para a virada deste mês caiu de 18,85% para 18,84%. Nele, está implícita alta linear da Selic de 0,30 ponto. Os contratos para maio e julho permaneceram estáveis em 18,97% e 19,07%, respectivamente. A estimativa para outubro recuou de 19,02% para 19%. E, para a virada do ano, o contrato mais negociado, cedeu de 18,68% para 18,67%. O dólar comercial subiu ontem 0,79%, para R$ 2,6780. O primeiro dia de operações efetivas depois de conhecidas as medidas cambiais anunciadas na noite de sexta-feira, a taxa de câmbio oscilou muito. Da mínima (R$ 2,6510) à máxima (R$ 2,6790), o dólar variou 1,06%. Tanto a volatilidade quanto a alta de fechamento pouca relação guardaram com as decisões de liberalizar as normas cambiais. Não tanto pelo fato de que elas só entram em vigor na próxima segunda-feira, dia 14, já que, se fossem determinantes de preço, fariam diferença ontem mesmo. Na prática, nem mesmo a dilatação do prazo para o exportador internalizar dólares é capaz de neutralizar o principal fator de estímulo ao ingresso, o juro real de 12,4%. O dólar subiu ontem por duas razões. A primeira foi a influência externa de alta. A moeda americana valorizou-se frente ao euro e à libra. A segunda, intervenção pesada de compra feita pelo BC. Quando a moeda ameaçava fraquejar, às 14h50, uma hora antes da que costuma entrar no mercado, o BC adquiriu moeda por R$ 2,6640. E manteve a agressividade demonstrada na semana passada: comprou lotes por preço acima do praticado e enxugou o mercado, forçando a alta do fechamento.