Título: Brasil quer discutir Cuba sem constranger Obama
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2009, Internacional, p. A13

Apesar de serem consideradas anomalias, a exclusão de Cuba do sistema interamericano e o bloqueio econômico à ilha por parte dos Estados Unidos serão abordados durante a Cúpula das Américas de forma a não hostilizar nem provocar constrangimento para o presidente americano, Barack Obama, informou ontem o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim.

As respostas da região à crise econômica mundial não estão previstas no rascunho do documento final da Cúpula, que se inicia na ilha caribenha de Trinidad e Tobago, a partir de sexta-feira, mas os presidentes devem discutir o tema, disse Amorim.

O ministro classificou de "pequeno passo" as iniciativas anunciadas na segunda-feira pelo governo de Obama, de liberalização das relações com Cuba. "O importante é que seja, realmente, um primeiro passo, e que não se fique esperando gestos de Cuba para poder continuar", comentou Amorim, argumentando: "Na realidade, a anomalia na região é a falta de relações dos Estados Unidos (claro que é um país soberano) e Cuba." Amorim disse esperar que haja entre os dois países "um diálogo direto, sem condições previas".

Na elaboração do documento que será divulgado oficialmente no domingo, o Brasil conseguiu aliados para incluir questões do interesse do país e evitar temas inconvenientes. Com ajuda de outros países latino-americanos, conseguiu que os EUA aceitassem incluir um item proclamando o reconhecimento e os direitos a pagamento dos conhecimentos tradicionais obtidos da biodiversidade nos países americanos. Com apoio dos EUA, evitou a inclusão de uma proposta da Venezuela que acusava programas de biocombustível de criar ameaças à "segurança alimentar" no continente.

Países da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), grupo liderado pela Venezuela e que conta, entre outros, com Bolívia e a Nicarágua, queriam adotar um tom depreciativo em relação aos biocombustíveis, o que foi rejeitado pela diplomacia brasileira.

Lula deverá discursar no sábado, no painel dedicado a questões energéticas, mas, segundo Amorim, deve aproveitar a oportunidade para falar sobre a crise.

Haverá painéis de presidentes sobre combate à pobreza e sobre segurança nas Américas - este último uma prioridade para os Estados Unidos que é criticada pelo Brasil. Na avaliação dos diplomatas, os EUA têm de mudar a agenda para o continente, priorizando a cooperação para o desenvolvimento, em lugar dos programas antinarcotráfico e antiterrorismo que dominaram o cenário na gestão George Bush.

A reintegração de Cuba ao sistema interamericano e as respostas da região à crise financeira não constam da pauta oficial, definida com antecedência.

Amorim diz que Lula está disposto a falar sobre Cuba. "É impossível não falar do tema, que fica pairando sobre a reunião. É a agenda não escrita", argumentou. "Vamos fazer isso de uma maneira não agressiva, não confrontacionista, que tem sido sempre a nossa maneira de agir", antecipou o ministro.