Título: Roseana diz que assume com o objetivo de escrever biografia própria
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2009, Política, p. A4
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), inicia hoje sua administração com a promessa de enxugar a máquina, fazer uma auditoria nas contas do Estado e diminuir os cargos de comissão. E disse, em sua primeira entrevista concedida ontem, em sua casa, que provará que tem força para escrever sua própria biografia política, à margem da herança do clã Sarney.
Roseana anunciou a suspensão dos pagamentos até que tenha dados sobre as dívidas do Estado. Ela diz que ainda não tem informações precisas de nada. A primeira medida será um enxugamento da máquina administrativa, que, na gestão de Jackson Lago (PDT), contava com 42 Pastas. Ela quer reduzir para algo entre 25 e 30. Mexerá, com certeza, nas secretarias com sede em Brasília. Das três atuais, permanecerá apenas a que funciona como escritório de representação, a ser ocupada pelo ex-senador Francisco Escórcio.
Durante o processo de cassação do ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Escórcio foi acusado de espionar dois senadores que militavam contra Renan: Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO). Ele alega que, na época, foi a Goiânia levar documentos para os advogados de Roseana.
Ela assegura que seu secretariado atual - avaliado como "mais do mesmo" - pelos seus adversários, reúne pessoas competentes. Até seu ex-desafeto, Ricardo Murad - irmão de seu marido Jorge Murad Junior -, aliou-se a ela e ocupará a Secretaria de Saúde. Sobre o futuro político - ela tem apenas 20 meses de mandato - Roseana também foi lacônica. Diz que primeiro quer governar, para depois, dependendo das conversas com seus aliados e da avaliação popular, definir se concorre ou não a um novo mandato, para o qual passa a ser forte candidata.
Empossada depois de decisão da Justiça Eleitoral, que cassou o mandato do eleito Jackson Lago, Roseana só deve assumir hoje o Palácio dos Leões. Lago, apoiado por movimentos sociais, negou-se a deixar a sede do governo maranhense, lá permanecendo por 36 horas, depois da decisão judicial. A desocupação, pacífica, aconteceu na manhã de sábado.
Durante a entrevista, irritou-se com acusações feitas por Lago de que faria parte de uma oligarquia política: "Tenho a minha vida política, que eu construí. E quero que me deixem governar, seguir meu caminho. Sempre fui eu que governei, as responsabilidades são minhas. Se tiver algum processo, quem responde sou eu, não é José Sarney". Para ela, a oposição adota este discurso porque não tem projeto.
Mas, o sobrenome Sarney provoca resistências. Foi o que aconteceu em 2006, quando a onda anti-sarneyzista uniu vários partidos e movimentos para levar Jackson Lago ao Palácio dos Leões. Nas eleições municipais do ano passado, o pedetista e seus aliados ampliaram o número de prefeituras de 4 para 144 prefeituras. E conquistara vitórias em municípios importantes, incluindo os dois principais colégios eleitorais do Estado: a capital, São Luís (com José Castelo, PSDB) e Imperatriz (com Sebastião Madeira, também do PSDB).
Roseana rebate e lembra que ela teve 49% de votos no primeiro turno em 2006 - "eu não ganhei por pouco, a diferença foi mínima, contra nove adversários que se revezavam para bater em mim". Na verdade, Roseana teve 47,2% dos votos válidos; Jackson Lago, 34,3%. A eleição foi decidida no segundo turno, quando a pemedebista perdeu por pouco menos de 2 pontos percentuais. Por coincidência ou precaução, Sarney não apareceu ainda publicamente ao lado da filha desde que ela ganhou do TSE o novo mandato. Como também não participou diretamente da campanha da pemedebista ao governo em 2006.
No próximo mês, Roseana vai submeter-se, em São Paulo, a uma cirurgia delicada com o neurocirugião Evandro de Oliveira para retirada de um aneurisma cerebral. Assumirá o governo do Maranhão o vice João Alberto, e ela ficará, pelo menos 50 dias licenciada. Diagnosticada em novembro, Roseana iria operar em dezembro, mas preferiu adiar: "Não vou negar, adiei tanto porque estava com medo. Mas agora não posso adiar mais."