Título: Térmicas já provocam alta nos reajustes
Autor: Goulart, osette
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2009, Empresas, p. B9
Quatro novos reajustes de tarifas aprovados ontem pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para distribuidoras da região Nordeste mostram que a tendência de alta dos preços de energia para o mercado cativo não se restringe ao curto prazo. Enquanto as distribuidoras do Sul estão sendo afetadas pelo impacto do dólar no custo da energia que vem de Itaipu - que tende a se estabilizar a medida em que a crise arrefeça - as distribuidoras do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Sergipe também tiveram fortes reajustes, com a diferença que elas não compram a energia que vem da fronteira com o Paraguai.
O impacto veio diretamente da energia nova negociada nos leilões federais desde 2004 e que tem alterado a matriz energética brasileira. Segundo dados retirados do Plano Decenal de Energia, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética, em 2008 84,5% da matriz brasileira era composta por geração hidráulica. A previsão é que em 2015 esse percentual venha a cair para 73%, em função do crescimento de projetos termelétricos.
Os votos dos diretores da Aneel, que relataram os diferentes casos aprovados ontem, mostram que os impactos da inflação medida pelo IGPM, do aumento dos custos com a entrada em operação de usinas do Proinfa e com os encargos de serviços do sistema (em função do acionamento extraordinário das térmicas) foram secundários se levado em conta o incremento dos gastos com a compra de energia. Um dos casos mais simbólicos foi o da Coelce, distribuidora do grupo Endesa.
O diretor José Guilherme Silva Menezes, que foi relator do processo de reajuste da Coelce, diz em seu voto que o custo com aquisição de energia subiu 18,5% desde abril do ano passado. Isso aconteceu em função do fim do contrato firmado com a Chesf, empresa do grupo Eletrobrás , que produz energia hidrelétrica. Esse contrato foi substituído pela chamada energia nova negociada nos leilões federais e que foram marcados pela venda de projetos termelétricos. Essa energia nova mais cara foi responsável por 8,26 pontos percentuais do reajuste de 10,3% que os consumidores cearenses passam a sentir a partir deste mês. Efeito muito parecido foi constatado na Cosern, que teve reajuste aprovado de 11,97%. Também aconteceu o mesmo com a Coelba (Bahia) que terá tarifas 9,86% mais caras a partir deste mês e a Energisa Sergipe, com reajuste superior a 17%.
Se levado em conta os resultados dos últimos leilões de energia nova, a tendência de alta nos preços deve manter-se até 2013. No último leilão, mais de 90% da energia vendida foi de projetos termelétricos a um preço médio de R$ 145. O presidente do Instituto Acende, Claudio Sales, lembra que diferentemente da energia hidrelétrica que é vendida efetivamente, o preço para a térmica reflete uma espécie de aluguel. O problema, segundo Sales, é que os R$ 145 são apenas uma referência com base em cálculos que preveem que elas serão acionadas, até o fim do contrato, apenas 5% do tempo. Mas cálculos do instituto apontam para um acionamento das térmicas, na média, de 10%.
José Manuel Soares, analista da Moody"s, diz que a tendência de alta vai manter-se pelos próximos anos. O equilíbrio no preço pode ser restabelecido, segundo Soares, dependendo da solução adotada pelo governo na questão das renovações dos contratos de concessão das geradoras a partir de 2015. O governo tende a exigir uma queda significativa dos preços para a manutenção da concessão. Mesmo que haja uma nova transferência, o preço dessa energia tenderá a ser inferior ao atualmente praticado. Soares lembra ainda que a energia, cujos contratos acabam antes de 2015, já está sendo negociada no mercado livre e só uma recessão faria com que os preços caíssem para o consumidor industrial.
Além das distribuidoras do Nordeste, a Aneel aprovou também ontem reajuste para a AES Sul, de 14,5%, e para a Rio Grande Energia, que pertence ao grupo CPFL, de cerca de 6%.