Título: Apetite do PMDB nos Estados preocupa PT
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2009, Política, p. A15

O desnorteamento provocado no PT com a doença da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na formação dos palanques estaduais de 2010 traz seus primeiros reflexos. Premido pela prioridade da candidatura Dilma, o partido já negociava suas candidaturas nos Estados sob a perspectiva de concessões mais generosas aos aliados do que aquelas que têm marcado as disputas eleitorais desde a primeira posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O aliado que mais preocupa o PT é o PMDB que, nas cordas desde o impasse gerado pelos escândalos das passagens aéreas no Congresso Nacional, busca agora recuperar, nos Estados, o espaço de manobra política com as redefinições em torno da chapa presidencial. A negociação dos palanques estaduais preocupa mais o PT do que a busca de um candidato próprio pelo PMDB, como o governador de Minas, Aécio Neves. Para os petistas, já teria passado o prazo de Aécio sair do PSDB. Com o compromisso firmado em torno das prévias, Aécio estará no partido em setembro, quando, pela lei, se encerra o prazo para troca partidária de quem pretende disputar 2010.

A negociação entre PT e PMDB, pautada pela diretriz de que sai na cabeça de chapa quem estiver na frente e candidatura única ao Senado, que em 2010 terá duas vagas, é feita sob forte pressão do PSDB, que trabalha para descontruir esta aliança.

Em pelo menos seis Estados que somam mais de 60 milhões de eleitores - Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Mato Grosso e São Paulo - a oposição espera subtrair o PMDB da aliança governista.

A estratégia é ou fechar com o PMDB nesses Estados ou impedir que o partido se alie ao PMDB. Na região Sul esse cenário está mais avançado. No Rio Grande do Sul, com a baixa popularidade da governadora Yeda Crusius (PSDB), o PMDB deve lançar o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, ou o ex-governador Germano Rigotto. Apoiados pelo Democratas, essa seria a composição anti-petista no Estado. A oposição no Paraná se compõe em torno da candidatura do prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB) e espera que a aproximação entre o governador Roberto Requião (PMDB) e o ex-governador paulista Orestes Quércia (PMDB), renda, pelo menos a neutralidade do primeiro na disputa.

Na Bahia, o PT não acredita que o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, possa vir a integrar um palanque de oposição tendo como o foco de seu discurso obras de sua pasta no governo Lula, mas a oposição espera trazê-lo para seu palanque convencendo Paulo Souto (DEM) a ceder-lhe a cabeça de chapa ou oferecendo-lhe uma vaga ao Senado. A hipótese ganha força se o governador Jaques Wagner (PT), aliado de Geddel, tentar a reeleição e o ministro romper com o petista, não aceitando a vaga ao Senado oferecida na composição.

Em São Paulo, onde o PMDB é comandado pelo ex-governador Orestes Quércia, a oposição tem como certa a aliança, apesar da dubiedade mantida pelo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB). No Mato Grosso, a aposta dos oposicionistas é na aproximação com o vice de Blairo Maggi (PPS), Silval Barbosa (PMDB).

A campanha da oposição deve centrar-se em dois aspectos: condução da política econômica com discurso focado nas altas taxas de juros e em saúde. A avaliação é de que Lula não tem muito a mostrar nesse campo, ao contrário de outras áreas, como educação e a ampliação da rede de proteção social.