Título: Contra gripe, México fala em fechar a sua capital
Autor: Thomson, Adam
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2009, Internacional, p. A16

As autoridades da Cidade do México admitiram que poderão ter de "fechar" a capital mexicana para combater o surto de gripe suína que até agora matou 149 pessoas, segundo dados oficiais.

Marcelo Ebrard, o prefeito da cidade, disse que o próximo passo na tentativa de isolar o vírus - uma versão híbrida de gripe humana e animal que cientistas jamais haviam visto - poderá ser a interrupção dos serviços na rede de transportes públicos.

Ebrard também planejava reunir-se com líderes do setor privado para discutir uma limitação do dia de trabalho. No fim de semana, um dos principais conselhos empresariais mexicanos, que representa empresas do setor privado, aceitou mexer nos turnos das fábricas para reduzir o número de pessoas em espaços fechados.

A possibilidade de fechar uma das maiores cidades do mundo é estudada num momento em que seus 22 milhões de habitantes estão sentindo uma crescente sensação de pânico. Numa esquina normalmente tranquila em La Condesa, um bairro de classe média, na manhã de ontem pessoas faziam fila para comprar máscaras cirúrgicas azuis às dezenas.

O proprietário da farmácia, que preferiu não ser identificado, disse ter vendido 5 mil máscaras apenas no fim de semana. "Estou tentando conseguir mais, pois os estoques se esgotaram", disse ele enquanto as distribuía aos punhados a consumidores desesperados.

Enquanto isso, na garagem de ônibus de Chapultepec, nas imediações, a atmosfera entre os trabalhadores que operam o transporte público era menos "macho" do que habitualmente.

Nos últimos dois anos, José Antonio Oliver Cruz dirige um "pesero" verde e cinza - um pequeno ônibus urbano -, mas preferiria estar em casa. "Se dependesse de mim, nem teria vindo trabalhar", disse ele. "Para ser honesto, tudo isso é alarmante, e trabalhar num espaço confinado com muita gente me deixa muito preocupado".

O mercado acionário do país caiu, na manhã de ontem, mais de 3,5%, depois que investidores começaram a avaliar o possível impacto econômico do surto. no fim de semana, o ministro das Finanças, Agustín Carstens, admitiu haver uma possibilidade elevada de "transtornos".

O Congresso esteve quase vazio.

O número relativamente elevado de mortes, em comparação com outros países que registraram surtos - ainda não se sabe por que a Cidade do México parece estar mais suscetível ao vírus - forçou pessoas e empresas a modificar seus hábitos em toda a cidade.

No bairro de Cuauhtémoc, donos de restaurantes e de bares dizem ter recebido ordens para fechar à 18h, e os estabelecimentos com capacidade para mais de 50 pessoas sentadas sequer têm permissão para funcionar.

As autoridades querem que os mexicanos não mais se cumprimentem com beijos ou dando as mãos. O comportamento no metrô da cidade também mudou, disse Arturo Flores, saindo da estação de metrô de Chapultepec com uma máscara cobrindo seu rosto. Segundo ele, "se alguém espirrasse nos vagões, todo mundo se afastava, como se a pessoa fosse portadora da peste".