Título: Cambiais sobem quase 3% somente em março
Autor: Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2005, EU &, p. D2

Depois de um longo período de queda, a valorização do dólar nos últimos dias trouxe fôlego novo aos fundos atrelados à moeda americana, que andavam esquecidos pelos investidores. Levantamento do site financeiro Fortuna revela que os cambiais lideram o ranking de retornos em março entre as principais categorias. Na semana entre os dia 24 de fevereiro a 3 de março, a categoria registrou ganho de 1,63%, rentabilidade superior a de outros tipos de fundos. O mesmo acontece no mês, com rendimento 2,93%. Esse movimento positivo ocorre graças à valorização da divisa americana. Na semana de 24 de fevereiro a 3 de março, o dólar subiu 2,30%, deixando para trás o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), com alta de 0,34% no período, e o Índice Bovespa, que subiu 0,82%. Apesar do bom desempenho da moeda americano, gestores de recursos e especialistas são enfáticos ao dizer que aplicações atreladas ao dólar valem apenas para investidores que possuem algum passivo na moeda, como por um exemplo uma dívida, ou pretendem fazer uma viagem para o exterior. No máximo, dizem, o investimento é indicado para diversificar uma pequena parte do patrimônio em outra moeda que não o real. O principal argumento dos profissionais é que a tendência de valorização da moeda brasileira frente ao dólar deve continuar. Segundo o diretor da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa, esse movimento perdeu um pouco de força nos últimos dias porque o Banco Central (BC) mostrou-se muito mais agressivo do que se imaginava na compra de dólar e na redução da parcela da dívida pública atrelada à divisa americana. "O BC uniu o útil ao agradável: aumentou reservas, reduziu a dívida cambial e impediu uma valorização maior do real frente ao dólar", diz. Ele estima que, se o BC não estivesse tido essa postura bastante agressiva, muito provavelmente o dólar já estaria na casa dos R$ 2,50 e o principal motivo é o enorme fluxo de recursos estrangeiros que tem ingressado no país, seja para a bolsa de valores ou para capturar os polpudos ganhos da renda fixa, ou para investimentos na produção. O diretor da Modal, no entanto, lembra que o movimento de valorização do real frente ao dólar deve continuar, apesar de em menor intensidade. Apesar de a expectativa de aumento gradual na taxa de juros nos Estados Unidos, os juros dos emergentes ainda são muito atrativos e, por isso, o movimento dos investidores internacionais deve continuar. "Por mais que o Banco Central americano suba os juros, ainda será gigantesca a diferença entre a taxa dos Estados Unidos e a brasileira, atraindo ainda muitos recursos para cá", diz Póvoa. O outro motivo são os próprios fundamentos do Brasil, com inflação controlada, perspectivas de crescimento econômico sustentável e não mais de "vôo de galinha" e juros que em algum momento devem começar a cair. "Não há motivos no horizonte do Brasil para um repique do dólar", diz Póvoa. "Essa alta é muito mais uma correção técnica de parte dos investidores vendidos em dólar que resolveram desfazer posições depois que perceberam a agressividade do BC para conter a cotação da moeda", completa o diretor. O consultor financeiro Fabio Colombo compartilha da mesma idéia. Ele acredita que, se o cenário continuar como está, o que chama de "benigno", a moeda americana tem pouquíssimas chances de no ano bater o CDI e o retorno da bolsa de valores. Para os mais adeptos ao risco, Colombo recomenda aplicar entre 10% a 15% do patrimônio em fundos cambiais. O consultor lembra que os contratos futuros de ouro na BM&F também podem ser uma boa opção para quem quer ficar com os recursos dolarizados, sem deixar o dinheiro propriamente em dólar. "Isso pode ser bom já que a moeda americana deve continuar se desvalorizando frente a outras divisas", diz Colombo. Apesar da valorização que as ações já registram este ano, o consultor acredita que a bolsa ainda pode reservar alegrias para o investidor. Ele diz também que há ganhos interessantes nos juros dos papéis prefixados.