Título: Viagem de Ciro aos EUA acalma ânimos no PSB
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Fonte: Valor Econômico, 28/04/2009, Política, p. A7
A pré-candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência da República sofreu forte abalo com o destempero demonstrado por ele na semana passada, em conversa com jornalistas, ao referir-se ao Ministério Público e a colegas da Câmara dos Deputados. O assunto era a utilização indevida das cotas de passagens pelos parlamentares. Apesar disso, ao menos num primeiro momento, o PSB mantém o projeto de tentar viabilizar sua candidatura.
O comportamento de Ciro, no entanto, fortaleceu a ala do partido contrária à tese da candidatura própria e defensora do apoio ao candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - por enquanto a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). A incerteza causada pela revelação da retirada de um tumor no sistema linfático da ministra e do tratamento quimioterápico ao qual ela se submeterá não é vista como oportunidade para abrir espaço para a eventual opção da base por Ciro.
Na avaliação da cúpula do PSB, Dilma irá superar o tratamento e seu problema de saúde não a tirará da disputa. Ciro não é visto como uma alternativa a ela - até porque o PT não aceitaria. O ex-ministro e ex-governador é apresentado por uma ala do PSB como segunda opção da base governista. A ideia é que dois candidatos afastam o risco de vitória em primeiro turno do candidato de oposição - o mais forte até agora é o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
No entanto, a cúpula do PSB está divida. O presidente do partido, o governador Eduardo Campos (PSB), forte aliado de Lula e candidato à reeleição em 2010, prefere aliança nacional com o PT. Os argumentos contrários à candidatura Ciro ganharam força depois dos desabafos feitos no café da Câmara.
Até os defensores da candidatura própria dizem que, para se viabilizar como opção à sucessão presidencial, Ciro terá de mudar algumas características pessoais, tentando ser mais equilibrado, e aceitar um trabalho partidário coletivo. Nos próximos dias, Ciro dará uma submergida, que já estava programada. Ficará três semanas nos Estados Unidos, fazendo um curso especial de economia na Universidade de Harvard, como aluno visitante.
Nesse tempo, a conveniência ou não de lançamento de candidatura própria continuará sendo avaliada pelo partido. Na opinião de Ciro, manifestada na semana passada, maio de 2010 é a data ideal para que a decisão seja tomada. Na opinião dele, a questão é exclusivamente partidária e independente da posição de Lula. Até lá, ele terá de lutar para viabilizar-se eleitoralmente e internamente, cumprindo extensa agenda de pré-candidato, ao retornar ao Brasil.
Antes da revelação da doença de Dilma, Ciro avaliava que ela teria um "potencial de partida" de 25% dos votos, só por ser candidata do presidente. Esse percentual seria atingido com uma semana de exposição na televisão, acredita. "A oposição a nós chega a 40, 45% nas pesquisas. Esse não é um índice imbatível. Muito do percentual do Serra é recall. Ele não segura isso aí, mas vai depender da nossa dinâmica", diz o deputado.
Pesquisa realizada pelo instituto Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada em 30 de março, mostra Serra liderando em todos os cenários. Nas duas opções de primeiro turno em que são apresentados ao eleitor como adversários do tucano, Dilma aparece com 16,3% e Ciro, com 14,9%.
Para o deputado, essas pesquisas realizadas agora, a quase um ano e meio da eleição, não refletem a situação eleitoral dos pré-candidatos, porque os eleitores ainda não estão pensando no assunto. Essas pesquisas mostrariam apenas uma "tendência de notoriedade" de cada um.
O PSB encomendou pesquisa nacional, qualitativa, para avaliar a viabilidade eleitoral de Ciro. Para o deputado, Lula está certo ao explicitar seu apoio a um candidato. "O governo está errando muito na economia, mas na política Lula está sendo brilhante. Ele conhece bem o partido dele e sabe que, se não botasse a mão em um candidato agora, estaria acontecendo uma guerra no governo dele", avalia. (RU)