Título: Gripe suína pode ter impacto limitado
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2009, Internacional, p. A12
O surgimento repentino da gripe suína em um cenário econômico mundial já deprimido pela crise que se alastra desde setembro do ano passado é um elemento perturbador a mais. Pode aumentar o protecionismo, a xenofobia e afetar setores importantes, como o de carnes, soja, milho, turismo e transporte aéreo. Mas a maior parte dos economistas ouvidos ontem pelo Valor não previu um impacto generalizado sobre a economia mundial e preferiu aguardar outras informações, especialmente médicas e sanitárias, para emitir opiniões mais conclusivas.
"Não ajuda. Mas não sei se o impacto da gripe suína vai tirar mais 0,5 ponto percentual do PIB dos EUA, do Japão ou da Alemanha em 2009 ou 2010. Acho que ela não terá tal poder de destruição", disse o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. Para Silveira, na falta de um indicador claro, o momento é de especulação e, na busca por esclarecimentos, é mais importante agora ouvir médicos, agrônomos e geneticistas do que mesmo economistas.
O único evento similar recente, pondera o economista, foi a gripe aviária que, no auge da crise, causou mais dano pelo pânico e o ruído do que efeito na economia global. "Houve perdas econômicas, mais não proporcionais aos temores", disse. As perdas, na sua avaliação tendem a ser mais localizadas e de efeito passageiro, tanto mais longo quanto mais localizado.
Semelhante é a opinião do economista Marcelo Nomemberg, especialista em economia internacional do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Claro que todos nós, mesmo os especialistas (médicos), sabemos muito pouco sobre qual vai ser a dimensão dessa coisa. Então, temos que pensar por analogia. A gripe aviária teve impactos temporários e localizados, não teve um impacto geral sobre o comércio e a produção global", disse. Como na gripe aviária, Nonemberg admite efeitos sobre setores como o turismo e o aéreo, além de commodities.
Exceção, o economista Carlos Thadeu de Freitas, chefe do Departamento de Economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), avalia que a gripe vai, sim, afetar a economia mundial, porque há um ambiente de falta de confiança dos consumidores e dos investidores. "Hoje as pessoas estão com medo, e o que adiciona medo, sempre piora", disse. Para Freitas, a gripe pode fazer com que o ciclo de juros baixos na economia mundial se prolongue.
Mais cautelosa, a economista Luciana de Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), admite que a gripe "é mais um elemento perturbador" na conjuntura de crise, e que ela pode ampliar as manifestações de protecionismo e de xenofobia que já têm sido constatadas com a crise, mas prefere aguardar mais informações médicas para aprofundar sua avaliação.
Quem também enxerga mais protecionismo no horizonte é César de Castro Alves, agrônomo de formação, analista da MB Agro. Em um primeiro momento ele acha que as exportações americanas de carne suína podem ser afetadas (os EUA respondem por 34% das exportações mundiais) e que, dependendo da evolução da gripe, o Brasil pode até levar vantagem. Ele acha que o clima de desconfiança já instalado na economia mundial favorece a redução de compras (de carnes) por parte de alguns países.
Para Jorge Britto, economista de Universidade Federal Fluminense, o impacto da gripe será maior se ela se espalhar pela Ásia, região que, para ele, vai comandar a retomada do crescimento mundial. Para Salomão Quadros, Coordenador da Análises Econômicas da FGV, e para David Kupfer, diretor de Pós-Graduação em economia da UFRJ, a hora ainda é de entender o que está acontecendo.