Título: Embarque de manufaturados ajuda São Paulo a inverter ciclo de queda
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2005, Especial, p. A10

A participação do Estado de São Paulo no total das exportações brasileiras subiu de 31,5% em 2003 para 32,1% até novembro de 2004, invertendo um ciclo de queda que se arrastava desde 1999. As estatísticas mais recentes indicam que o processo de desconcentração física das exportações, impulsionado pela transferência de indústrias para outros Estados na guerra fiscal e pelo "boom" agrícola dos últimos anos, pode ter sido interrompido. Ainda é tímido o aumento da participação de empresas baseadas em São Paulo nas vendas externas do país, principalmente comparados aos 36,5% que elas detinham há cinco anos. Entretanto, para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, trata-se de um dado importante porque reflete uma nova tendência. O atual crescimento das exportações brasileiras vem sendo puxado por bens industriais, área em que São Paulo detém maior dinamismo. Nas estimativas de Castro, a fatia dos produtos manufaturados na pauta exportadora deve aumentar de 54% no ano passado para 57% em 2005, o que provavelmente significará novo ganho de terreno para o Estado. Esse cenário leva em conta um pequeno avanço do dólar, a patamares alcançados no início do ano passado, por volta de R$ 3. Se isso não ocorrer, o especialista afirma que as indústrias enfrentarão dificuldades e poderão deixar de renovar contratos por causa da queda de rentabilidade. As montadoras de automóveis já fizeram claramente esse alerta, lembra Castro. Aconteça o que acontecer com a taxa de câmbio, as empresas paulistas estão se mexendo para evitar um tombo no crescimento de 36,2% das exportações de 2004 até novembro - índice quatro pontos percentuais superior à média nacional. O ritmo de expansão dos embarques deve diminuir este ano, como em quase todos os outros Estados, mas algumas ações estratégicas foram planejadas para suavizar esse movimento. O embaixador Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz que a entidade selecionou os Estados Unidos como mercado prioritário em 2005 e pretende implementar várias iniciativas. Entre elas, uma parceria com a National Association of Manufacturers (NAM), principal congregação de industriais americanos. A idéia é fechar um acordo-quadro, até dezembro, pelo qual as entidades se comprometeriam a reforçar o comércio bilateral. A NAM ajudaria a Fiesp na organização de missões comerciais aos Estados Unidos, na prospecção daquele mercado e na identificação de oportunidades de negócios, facilitando o contato entre empresários - e vice-versa, em uma via de mão dupla. Segundo Barbosa, que esteve à frente da embaixada brasileira em Washington durante quatro anos, 68% das importações feitas pelos Estados Unidos entram no país sem barreiras comerciais e é preciso aproveitar essas oportunidades em vez de apenas reclamar de medidas protecionistas. Ele está otimista com a possibilidade de um acordo com a NAM. "O interesse existe e eu já atestava isso como embaixador", garante. Os Estados Unidos já absorvem um quarto das exportações paulistas e representam o maior mercado para São Paulo. Em seguida estão Argentina (10,8%), México (6,9%) e Chile (3,5%). Como a maioria dos embarques é de produtos manufaturados, União Européia e China, tradicionais compradores de bens primários do Brasil, respondem por uma parcela bem mais tímida das vendas do Estado do que na média nacional. A China, por exemplo, representa apenas 2,5% das exportações paulistas. Os produtos mais vendidos incluem aviões, automóveis, autopeças, telefones celulares. Mas até no agronegócio os paulistas têm dado sorte. Enquanto boa parte das commodities agrícolas enfrenta queda dos preços internacionais, o suco de laranja, cuja produção é concentrada no interior de São Paulo, ensaia uma recuperação como conseqüência de problemas climáticos nos Estados Unidos. Também é do Estado que desponta um dos produtos mais promissores do comércio exterior brasileiro, o etanol, que poderá ter sua demanda externa quase quintuplicada até 2010 - hoje as usinas já exportam 2,2 bilhões de litros. Desde meados da década passada, a guerra fiscal acentuou o processo de desconcentração industrial, o que influenciou a distribuição das exportações. O Paraná tornou-se um importante fornecedor de veículos e uma parte da indústria de calçados começou a exportar a partir do Nordeste. Os embarques da Zona Franca de Manaus saíram praticamente do zero para superar US$ 1 bilhão no ano passado. E as fronteiras agrícolas se expandiram, com a transformação do Mato Grosso no maior produtor de soja do país e da Bahia em produtor de café e algodão.