Título: Importações devem aumentar 20% este ano
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2005, Especial, p. A10

As importações devem crescer significativamente mais do que as exportações em 2005. Enquanto as projeções para as vendas externas apontam, na média, leve alta de 5%, as importações devem aumentar cerca de 20%. Em 2004, exportações e importações subiram 30%. Mesmo assim, o Brasil deve manter um superávit comercial confortável para as contas externas em 2005, em torno de US$ 25 bilhões. As projeções dos economistas ouvidos pelo Valor apontam importações entre US$ 66 bilhões e US$ 77,2 bilhões nesse ano. O vigor das compras externas será sustentado pela expansão da economia brasileira, que deve crescer 3,5% em 2005. Na avaliação de Carlos Urso, economista da LCA Consultores, o aumento da renda do trabalhador e os investimentos das empresas terão forte impacto no nível de importação. "A retomada do investimento vai aumentar a compra de bens de capital. Já a expansão da renda sustenta o crescimento das importações de bens duráveis e não-duráveis", explica. As contas nacionais do IBGE já começam a registrar a volta dos investimentos. A taxa de formação bruta de capital fixo aumentou 6,7% no terceiro trimestre de 2004 em relação ao segundo trimestre na série com ajuste sazonal. Foi a maior expansão para esse período desde 1994. Em comparação com o terceiro trimestre de 2003, a taxa de investimento registrou alta de 20,1%, a maior desde 1995. A massa salarial também está se recuperando, especialmente pelo aumento do emprego. A LCA acredita que esse indicador pode ter crescido 6,5% no ano passado. Além disso, o novo salário mínimo de R$ 300 representará um ganho real de 9% para o trabalhador. "O ritmo das importações só irá desacelerar porque as indústrias exportadoras não devem demandar tantos insumos, já que as vendas externas não devem crescer tanto", explica Urso. A LCA projeta importações de US$ 76 bilhões em 2005, com saldo comercial de US$ 28,7 bilhões. Júlio Callegari, economista do JP Morgan, frisa que, apesar da alta do petróleo, o fator predominante para o forte aumento das importações em 2004 foi a demanda interna. "As matérias-primas e insumos para a indústria puxaram o resultado", diz. No ano passado, a indústria cresceu 8%, enquanto o PIB expandiu 5%. Segundo as projeções do JP Morgan, as compras externas de matérias-primas e insumos industriais aumentaram 32% em 2004. Esses itens responderam por 53% da pauta de importação do país. As importações de combustíveis aumentaram ainda mais: 53%, afetadas pela alta do preço do petróleo, que volta a ser o principal item da pauta de importação brasileira. Os combustíveis respondem por 16% das importações brasileiras. O JP Morgan acredita que as importações atingiram US$ 63,5 bilhões em 2004 e devem ficar em US$ 77 bilhões em 2005. O banco aposta em um saldo comercial de US$ 25,8 bilhões para o país nesse ano. As importações de bens de consumo aumentaram 32% no ano passado, segundo o JP Morgan. Dernizo Carson, da GRC Visão, lembra que as compras desses produtos foram impulsionadas no final do ano pela valorização do real ante o dólar. Já as importações de bens de capital aumentaram 16%. Para os economistas, esse percentual demonstra que a recuperação do investimento chegou pouco às importações e que o impacto deve ocorrer em 2005. (RL)