Título: Meta de US$ 100 bi é incógnita para 2005
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2005, Especial, p. A10

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, separou um champagne para comemorar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o recorde de US$ 100 bilhões de exportações este ano. Mas a garrafa corre o risco de ficar na geladeira novamente no réveillon. Alguns economistas duvidam que a meta será alcançada e, mesmo que isso ocorra, Lula e Furlan podem preferir não brindar a uma alta de 5% nos embarques em 2005, depois do crescimento de 30% em 2004. Os preparativos do governo para a festa são modestos, já que as exportações brasileiras provavelmente atingiram cerca de US$ 96 bilhões em 2004. O dado oficial será divulgado hoje. Mesmo assim, pode faltar fôlego. As estimativas são díspares e dependem do pessimismo ou otimismo em relação ao câmbio no Brasil e ao crescimento da China. Bancos e consultorias ouvidos pelo Valor estimam desde queda de 2,2% das exportações até alta de 10%. Na média, as previsões apontam ganho de 4,9%, que cravariam US$ 100 bilhões. Não será necessária uma tempestade no front externo para estragar a comemoração, mas simplesmente as variáveis que permitiram o "céu de brigadeiro" de 2004 não devem se repetir. No ano passado, as exportações e as importações cresceram simultaneamente cerca de 30%. A última vez que isso ocorreu foi em 1980. No início de 2004, ninguém poderia prever um clima tão perfeito para as vendas externas. A demanda dos principais clientes brasileiros aumentou vertiginosamente, com a economia americana crescendo 4,5%, a chinesa saltando 9%, a argentina, 8%. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o comércio global expandiu 18% em dólares e 9% em quantidade. Os preços das commodities agrícolas e minerais explodiram. Excluindo o petróleo, as cotações subiram quase 17%, conforme o FMI. Além disso, as empresas brasileiras ficaram mais competitivas na Europa por conta da valorização do euro ante o dólar, e as montadoras exportaram o que puderam para o México, beneficiadas pelo acordo comercial entre os dois países. E, apesar do crescimento brasileiro de 5%, as indústrias tinham capacidade ociosa para manter o ritmo de embarques. Depois de tanta bonança externa, o tempo começa a virar. "Os Estados Unidos vão puxar a economia mundial para baixo", diz Carlos Urso, da LCA Consultores, que projeta um crescimento de 3,2% para os EUA em 2005, ante 4,5% em 2004. O "motor" do mundo deve girar ao contrário, desacelerando a economia global, que deve crescer 3,3% em 2005, ante 4,2% em 2004. Segundo a LCA, a China, que saltou 9% em 2004, deve expandir 7,8% em 2005. O JP Morgan também fez as contas para vários clientes importantes do Brasil na América Latina. A Argentina cresceu 8% em 2004, mas só deve atingir a metade em 2005. A economia mexicana deve expandir 3% esse ano, ante 4,1% no ano passado. A Venezuela sai de impressionantes 17% em 2004 para 3,8% esse ano. A desaceleração dos EUA será uma conseqüência da alta da taxa de juros realizada para conter o espantoso déficit do país. Os americanos iniciaram 2004 com juros de 1%, terminaram o ano com 2,25% e a LCA projeta 3,5% no fim de 2005. "Ao crescer menos, os EUA vão importar menos, o que atinge em cheio a China. Os EUA vão impor uma desaceleração aos chineses, que consumirão menos commodities, afetando os preços de produtos importantes para o Brasil como soja ou minério de ferro", diz Urso. Ninguém duvida desse raciocínio, o difícil é precisar o impacto. A Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) projetou dois cenários. No primeiro, o governo estoura o champagne. No segundo, não. Segundo o FMI, o quantum do comércio global vai crescer 7,4% em 2005, os preços das commodities cairão 4% e os dos manufaturados subirão 1,5%. No Brasil, a Funcex estima alta de 4% do PIB em 2005 e dólar médio de R$ 3,00. Para Fernando Ribeiro, da Funcex, a redução da capacidade ociosa das empresas restringirá as exportações, mas não drasticamente. A Fundação estima que o quantum das exportações brasileiras deve expandir 10% em 2005 - metade do obtido em 2004. Já os preços das exportações ficarão estáveis, pois a alta dos manufaturados compensará a queda dos básicos. Nesse cenário, a Funcex estima alta de 10% para as exportações em 2005, atingindo US$ 106 bilhões. No cenário pessimista, a Funcex projeta câmbio médio de R$ 2,75 para o ano, o que afetaria a rentabilidade das exportações. Também prevê uma desaceleração mais forte da China, que provocaria queda de 6% no preço das commodities e levaria o comércio a crescer apenas 2%. Assim, as vendas externas do país atingiriam US$ 98,3 bilhões, alta de 1,9% ante 2004. Ribeiro aposta no cenário otimista. "O exportador acha que o dólar voltará a R$ 3. Por que desistiria agora?". Com uma das estimativas mais pessimistas, a MSConsult projeta queda de 2,2% nas exportações em 2005, para US$ 92 bilhões. Fábio Silveira, da MSConsult, atribui o fraco desempenho à queda dos preços das commodities, particularmente da soja "Os preços derreteram", argumenta. Ele estima que a cotação média da soja estará, em 2005, 31% abaixo de 2004. Afetados por essa queda, os preços das commodities exportadas pelo Brasil encolherão 5% em 2005, depois de subir 22% em 2004. A MSConsult calcula que as exportações do agronegócio cairão 11,6% em 2005, para US$ 27,4 bilhões. A MB Associados projeta que as exportações brasileiras devem atingir exatos US$ 100 bilhões. Para a economista Mônica Baer, a demanda internacional deve seguir "razoável". "O ritmo será menos intenso. Mas ninguém fala em parada. É o que nos salva". Ela chama a atenção para a valorização do euro ante o dólar. Pouco competitivas em seu país de origem, as empresas européias passaram a abastecer seus próprios mercados com os produtos provenientes de países como o Brasil em 2004. "Só que essa variação cambial