Título: Consórcio sequencia genoma de bovinos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2009, Agronegócios, p. B12

Um consórcio internacional composto por 300 cientistas de 25 países, e integrado por um grupo de cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criou uma nova tecnologia capaz de "ler" cerca de 2,87 bilhões de "páginas" inseridas em 22 mil genes (ou "livros") que compõem a constituição genética de 17 raças bovinas de leite e de corte.

O resultado das pesquisas de seis anos do consórcio tem grande importância econômica para o setor porque permitirá identificar e selecionar genes com características específicas (qualidade e produtividade) de maneira mais rápida, eficiente, ampla e barata.

O chamado sequenciamento do genoma bovino e a construção do mapa genético da espécie, cujas pesquisas custaram US$ 54 milhões ao consórcio internacional, poderá selecionar genes especiais que dariam, por exemplo, mais maciez e sabor à carne, coloração mais acentuada, menor quantidade de gordura e ácidos graxos. Devem ser gerados novos "produtos" a partir dessas pesquisas que estudaram, em parceria nacional da Embrapa com USP e Unesp, os genomas do gado brasileiro das raças nelore e gir leiteiro. A nova ferramenta também ajudará a aumentar a resistência dos animais a doenças e parasitas, como a mastite (inflamação da mama) e carrapatos ou vermes, que afetam o desempenho do gado no campo.

O geneticista Alexandre Rodrigues Caetano, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, explica que a nova ferramenta de avaliação e melhoramento pode ser aplicada no sistema de rastreamento e identificação individual de todo o rebanho brasileiro com alta precisão tecnológica e baixo custo. "Podemos fazer mais rápido e eficientemente coisas que não podíamos com a tecnologia anterior", diz. "Isso ajudará do sistema produtivo até o consumidor final".

O novo modelo de seleção é capaz de "ler" 60 mil "páginas" (ou pontos) do DNA bovino ao custo de US$ 200 por operação. "Ele atinge uma grande variabilidade genética", diz Caetano. A antiga tecnologia conseguia "ler" apenas 150 "páginas" do DNA a um custo de US$ 1,5 mil. O pesquisador informa que, mesmo a um custo "um pouco maior", a evolução da nova ferramenta permitirá a "leitura" de até 250 mil "páginas" em breve.

Ao construir o mapa genético bovino, os cientistas descobriram características de 5 mil gerações da espécie que mostram uma redução do tamanho efetivo das raças - hoje em um total de 800 - provocada pela domesticação ocorrida há oito ou dez mil anos, pela formação de raças e a intensa seleção para produção de carne e leite segundo questões econômicas, sociais e até religiosas. Há, conforme a pesquisa, uma grande diversidade intra e inter-racial nos bovinos.

No Brasil, o desenvolvimento das pesquisas ainda depende de financiamento adequado e de parceria com pecuaristas e frigoríficos para aumentar o acesso aos rebanhos de todas as regiões do país. "Precisamos de mais parceiros para aplicar a ferramenta", afirma Alexandre Caetano.

As descobertas feitas pelo sequenciamento do genoma bovino podem ajudar a ciência a avançar no estudo de doenças humanas. A pesquisa comprovou que os genes dos seres humanos têm características mais parecidas com o genoma bovino do que com os genes de macacos, ratos, cães ou camundongos.

A alta resistência dos bovinos a micro-organismos contidos em seu rúmen podem ser uma chave para as pesquisas dedicadas ao aumento da imunidade em seres humanos. Há questões sobre metabolismo, lactação e digestão incluídas nessas pesquisas, patrocinadas por instituições dos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Noruega, França e Reino Unido.