Título: FMI ainda aguarda o reforço do caixa
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2009, Finanças, p. C1

Boa parte dos recursos que os líderes mundiais prometeram mobilizar para reforçar os cofres do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atenuar os efeitos da crise nos países emergentes ainda é apenas uma miragem, três semanas depois da reunião em que o compromisso foi selado.

No início de abril, líderes das potências econômicas que fazem parte do G-20 prometeram em Londres que arranjariam US$ 750 bilhões para o FMI. Mas os países que se mostraram dispostos a efetivamente contribuir com o esforço ofereceram até agora apenas metade do dinheiro, e somente US$ 100 bilhões estão disponíveis para o Fundo usar.

Os Estados Unidos anunciaram na semana passada que pretendem emprestar US$ 100 bilhões ao Fundo, mesmo valor que o Japão e a União Europeia ofereceram. Outros três países anunciaram publicamente que farão contribuições também: o Canadá e a Suíça vão pingar US$ 10 bilhões cada um e a Noruega entrará com US$ 4,5 bilhões. Tudo somado, o FMI tem US$ 324,5 bilhões mais ou menos garantidos.

Apenas o Japão cumpriu a promessa até agora. O contrato que estabelece os termos do seu empréstimo foi assinado com o Fundo em fevereiro, antes mesmo da reunião do G-20. O dinheiro oferecido pelos EUA ainda depende de aprovação do Congresso americano. Detalhes dos empréstimos dos demais países ainda estão em discussão.

O diretor-gerente do Fundo Monetário, Dominique Strauss-Kahn, disse ontem que espera receber outras contribuições nos próximos dias, quando ministros das finanças do mundo inteiro se encontrarão em Washington para a reunião que o FMI e o Banco Mundial fazem todos os anos em abril. "Se vamos ter que emprestar mais, precisamos ter mais recursos", disse Strauss-Kahn.

O aprofundamento da crise internacional e a contração nos fluxos de capital para mercados emergentes transformou o Fundo num instrumento essencial para combater a crise nas regiões mais afetadas pela crise, como o Leste Europeu.

Nos últimos meses, a instituição aprovou US$ 69 bilhões em empréstimos para socorrer países em apuros. No fim da década de 90, o Fundo Monetário emprestou US$ 88 bilhões para combater a crise asiática.

Os compromissos assumidos pelo Fundo desde o início da crise somam US$ 147 bilhões se forem incluídas uma linha de crédito especial aberta recentemente para o México e dois pedidos parecidos que devem ser aprovadas em breve, apresentados pela Colômbia e pela Polônia. Os três países dizem que não pretendem sacar os recursos e planejam usar a linha como um seguro para eliminar desconfianças sobre sua saúde financeira.

A China indicou que poderá contribuir com US$ 40 bilhões para o Fundo, mas nenhuma autoridade chinesa veio a público até agora assumir compromissos. Na semana passada, Strauss-Kahn disse que os chineses estão interessados em comprar os bônus que a instituição planeja emitir para captar recursos no mercado, mas os detalhes da operação ainda estão em discussão. O Brasil também tem manifestado interesse pelos papéis.

O Brasil foi convidado recentemente pelo Fundo a participar do clube de países que ajudam a financiar suas transações no dia-a-dia. Depois que isso for formalizado, o Brasil poderá ser chamado eventualmente a contribuir com recursos para a organização. As regras do FMI indicam que o Brasil poderia entrar com até US$ 4,5 bilhões, mas é provável que o valor de sua contribuição fique bem abaixo disso.

Uma fatia importante dos recursos prometidos para o FMI ainda depende de negociações demoradas entre os membros da instituição. O G-20 prometeu trabalhar por uma emissão de US$ 250 bilhões em Direitos Especiais de Saque (DES), uma espécie de moeda usada nas transações do Fundo. Strauss-Kahn indicou ontem que será preciso esperar meses para que a diretoria do FMI aprove a iniciativa.

Quando isso ocorrer, esses recursos serão distribuídos entre os membros da instituição proporcionalmente às cotas que cada país tem de acordo com seu peso na economia mundial. Calcula-se que pelo menos US$ 100 bilhões da emissão de DES poderão ser transferidos diretamente para os mercados emergentes.