Título: Prejuízos podem alcançar US$ 4,1 tri
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2009, Finanças, p. C1
O aprofundamento da recessão atravessada pela economia mundial está agravando os problemas existentes no sistema financeiro internacional, aumentando a fragilidade dos bancos dos países mais avançados e gerando novas fontes de instabilidade, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Um relatório divulgado ontem pela organização estima que os prejuízos acumulados por bancos, seguradoras e outras instituições financeiras com a crise atual poderão alcançar US$ 4,1 trilhões até o próximo ano. As perdas contabilizadas por bancos americanos, europeus e japoneses do início da crise até agora correspondem a somente um quarto desse valor.
As novas projeções refletem uma avaliação pessimista sobre os rumos da economia mundial e a incorporação de estimativas sobre a qualidade de ativos europeus e japoneses que não tinham sido analisados antes pelos economistas do FMI. Em janeiro, o Fundo estimava que os prejuízos provocados pela crise alcançariam US$ 2,2 trilhões.
As estimativas do Fundo indicam que ainda falta muito para restabelecer a saúde do setor financeiro, uma condição considerada pelos economistas indispensável para que a economia mundial volte a crescer com vigor. A instituição prevê que a oferta de crédito para o setor privado nos Estados Unidos e na Europa se contrairá 4% neste ano.
Alguns dos maiores bancos americanos anunciaram nas últimas semanas que voltaram a ter lucros no primeiro trimestre deste ano, mas o cenário econômico ruim continua alimentando dúvidas sobre a saúde financeira dessas instituições e sua capacidade de apresentar bons resultados nos próximos meses.
O FMI acredita que os EUA e outros países avançados precisarão fazer muito mais do que fizeram até aqui para restaurar a confiança nos bancos e estabilizar o sistema financeiro, em alguns casos assumindo temporariamente o controle das instituições mais frágeis para saneá-las, um passo que o governo americano tem feito de tudo para evitar.
"Ações decisivas e efetivas são necessárias para preservar e fortalecer os primeiros sinais de melhoria, e para ajudar a criar uma plataforma mais estável para sustentar o crescimento global", afirmou o diretor do departamento do Fundo que monitora os mercados de capitais, José Viñals, numa entrevista em que discutiu o novo relatório.
O Fundo calcula que os bancos americanos e europeus terão que levantar US$ 875 bilhões neste e no próximo ano para reforçar seu capital e voltar a operar em condições saudáveis depois que forem contabilizadas as perdas ainda não registradas em seus livros. Os bancos americanos precisarão de pelo menos US$ 275 bilhões, prevê o FMI.
Desde 2007, bancos americanos e europeus levantaram US$ 904 bilhões em capital para cobrir prejuízos decorrentes da crise, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), uma associação que representa os maiores bancos do mundo. Os governos dos países mais avançados providenciaram cerca de 40% desses recursos.
Os EUA lançaram nos últimos meses várias medidas para limpar os balanços dos bancos americanos e ajudar a capitalizá-los, mas muitas ainda não começaram a ser executadas. O Tesouro americano deve concluir na semana que vem os testes de estresse financeiro que realizou para examinar a situação dos 19 maiores bancos do país.
A deterioração da economia mundial está aumentando as pressões sobre o setor financeiro de várias maneiras. Os preços dos imóveis continuam caindo nos EUA, levando mais gente à inadimplência. Empresas que pareciam saudáveis no começo da crise começaram a enfrentar problemas com a falta de crédito e a redução do consumo.
A crise também provocou uma contração significativa nos fluxos de capital externo para o Brasil e outras economias emergentes. Países do Leste Europeu que se endividaram muito antes da crise estão sofrendo mais, mas o relatório do FMI diz que será preciso esperar anos para que empresas estabelecidas em mercados emergentes voltem a captar recursos de investidores estrangeiros em volumes expressivos.
"No longo prazo, os participantes do mercado acreditam que os mercados emergentes vão reter alguns investidores institucionais comprometidos com aplicações estratégicas", afirma o documento. "A redução no número de investidores, no entanto, combinada com o desaparecimento de alguns intermediários, tende a comprometer a liquidez dos ativos de mercados emergentes por vários anos."
O Fundo calcula que bancos de países emergentes sofrerão US$ 796 bilhões em prejuízos decorrentes da crise, numa estimativa que não inclui a China e reflete principalmente os problemas enfrentados no Leste Europeu. Na América Latina, as perdas poderão alcançar US$ 181 bilhões e os bancos precisarão levantar US$ 37 bilhões para fortalecer seu capital, diz o FMI.