Título: Analistas estimam queda da relação dívida/PIB para 51,3% em 2004
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2005, Brasil, p. A2

O dólar abaixo de R$ 2,70 traz preocupações sobre o equilíbrio das contas externas do país, mas tem um impacto positivo sobre a situação fiscal. Como o dólar fechou 2004 em R$ 2,65, o Credit Suisse First Boston (CSFB) passou a estimar que a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB encerrou o ano passado em 51,3%, e não mais em 52,6%, previsão que embutia um câmbio a R$ 2,85. Os números oficiais de dezembro serão divulgados no dia 28, mas os analistas trabalham com a certeza de que a relação dívida/PIB caiu em relação aos 57,2% de 2003 - a primeira queda em 10 anos. Em 2005, porém, o indicador não deve ter o mesmo comportamento de 2004. É possível que haja uma pequena alta, para a casa de 52%, embora a trajetória esperada para o longo prazo seja de queda gradual, na suposição de que a política de superávits primários elevados continue.

O economista Alexandre Marinis, do CSFB, diz que, a cada 1% de valorização do câmbio, há uma queda de 0,12 ponto percentual na relação dívida/PIB, um dos principais indicadores de solvência de um país. O impacto já foi bem maior, lembra ele: em setembro de 2002, por exemplo, 1% de apreciação do câmbio diminuía a proporção em 0,34 ponto. Nessa época 58% da dívida líquida (que inclui a externa e a interna) era indexada ao dólar; hoje, esse percentual está na casa de 25%. Isso ocorreu em grande parte por causa da redução da parcela da dívida doméstica atrelada ao câmbio, que caiu de 37% no fim de 2002 para 10%. As estimativas para a relação dívida/PIB no fim de 2004 giravam em 54% há poucas semanas, e foram revisadas para 52% depois que o IBGE revisou os números sobre a economia em 2003, o que aumentou o valor do PIB em termos nominais. O dólar a R$ 2,65 empurrou as estimativas para a casa de 51%. O economista-chefe do ABN AMRO, Mário Mesquita, lembra que em 2004 todos os fatores ajudaram a reduzir o indicador: o PIB cresceu algo como 5%, o superávit primário (resultado das contas públicas antes do pagamento de juros) deve fechar até um pouco acima da meta de 4,5% do PIB, o câmbio se valorizou e a inflação foi mais alta do que se esperava (o que tem um impacto fiscal favorável, ao inflar o valor nominal do PIB.) E como fica a relação dívida/PIB em 2005? A estimativa do CSFB é de que o indicador ficará em 52%, com dólar a R$ 3 em dezembro e crescimento de 3,4%. Marinis lembra, porém, que um câmbio mais valorizado puxaria a previsão para baixo, assim como uma alta mais forte do PIB. Os analistas do Bradesco projetam uma relação dívida/PIB em 50,9% no fim de 2005, e não por acaso estimam um dólar a R$ 2,85 no fim do ano e crescimento de 3,6%. Tanto as previsões do CSFB quanto do Bradesco pressupõem que o superávit primário ficará em 4,25% do PIB. "Isso é fundamental para a dinâmica de longo prazo da dívida", diz Marinis.