Título: Emprego cresce, mas indústria ainda demite
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2009, Brasil, p. A4

A indústria perdeu 35.775 empregos sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em março, completando o quinto mês consecutivo de saldos negativos. Em março de 2008, o setor criou 40.389 vagas. Apesar do sinal negativo, o saldo representa uma melhora em relação ao corte de 56.456 postos de trabalho em fevereiro e ao recuo de 80.789 vagas em novembro de 2008. Em dezembro, mês em que o setor normalmente demite, a indústria de transformação teve perda de 273.240 vagas em 2009, muito acima da variação entre 100 mil e 150 mil postos perdidos nos anos anteriores.

No resultado agregado, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou, em março, saldo positivo de 34.818 vagas, bem abaixo das cem mil previstas pelo ministro do Trabalho Carlos Lupi, mas melhor que os 9.179 postos abertos em fevereiro. Lupi aproveitou para declarar março como o "mês da virada" e apostou que 2009 terá, daqui em diante, apenas saldos positivos.

Lupi também procurou dar destaque à criação de empregos nos Estados de São Paulo (34.231), Minas Gerais (9.399) e Rio de Janeiro (6.158) no mês de março. "O Brasil está virando a página da crise. O PIB vai crescer este ano e muitas pessoas vão ter de refazer suas contas. Ninguém contrata se não estiver vendendo", comentou.

Na análise setorial, março teve contribuições positivas dos serviços (49.280), da construção civil (16.123), da agricultura (7.238) e da administração pública (7.141). Por outro lado, a indústria teve déficit de 35.775 vagas e o comércio fechou 9.697 empregos no mês.

O impacto da crise econômica fez deste março o pior desde 2003, quando o mês teve saldo positivo de 21.261 vagas. No trimestre, o resultado negativo de 57.751 postos de trabalho é o pior desempenho desde 1999, quando foi registrada perda de 195.553 empregos.

Na comparação dos saldos de março de 2009 (34.818) e março de 2008 (206.556), o deste ano é 83,14% menor. O confronto dos primeiros trimestres é ainda mais contrastante. No início do ano passado, a economia aquecida criou 554.440 vagas celetistas. Neste ano, perdeu 57.751 empregos.

A indústria, setor que ainda não reagiu na criação de empregos, teve, em março, redução do ritmo da perda de vagas. No déficit de 35.775 postos de trabalho, os destaques negativos relacionados pelo governo foram nos segmentos metalúrgico (-11.879), mecânico (-7.913) e de material de transporte (-5.008). No mês passado, criaram empregos as indústrias de calçados (4.418) e as de borracha, fumo e couros (2.577).

No primeiro trimestre deste ano, a indústria acumulou perda de 147.361 vagas. Em igual período 2008, o setor criou 146.246 postos de trabalho. De janeiro a março de 2009, o pior resultado foi das indústrias metalúrgicas, com menos 35.908 postos. Em seguida, na lista de demissões, vêm material de transporte (-29.726), mecânica (-21.332), alimentos e bebidas (-15.187), materiais elétricos e comunicações (-14.055), têxtil e vestuário (-10.706), químicos (-10.472), madeira e mobiliário (-10.389), papel e papelão (-6.230) e minerais não metálicos (-5.760). Criaram empregos, no primeiro trimestre de 2009, as indústrias de calçados (8.017) e borracha, fumo e couros (4.387).

O comércio fez companhia à indústria nos desempenhos negativos de março e do primeiro trimestre - menos 9.697 vagas, trajetória parecida com o déficit de 10.275 postos em fevereiro, mas contrastante com a criação de 19.594 empregos em março de 2008.