Título: Doações sem data para embarcar
Autor: Brito, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 21/01/2010, Mundo, p. 28

Força Aérea Brasileira só garante envio de donativos entregues à Defesa Civil. Mantimentos recolhidos no DF aguardam remessa

Apesar do impasse, esposas de militares continuam recolhendo roupas e alimentos em um posto na 103 Norte

Parte das roupas(1), alimentos e medicamentos arrecadados pelos brasilienses corre o risco de não ser enviada a Porto Príncipe. Isso porque um volume importante de donativos não está sendo entregue diretamente à Defesa Civil. A secretaria foi a instância escolhida pelo Governo Federal para centralizar os mantimentos e encaminhá-los à base aérea do Rio de Janeiro, de onde partem os voos para a capital haitiana.

No Distrito Federal, cerca de 80 toneladas em doações estão em um grande galpão do Grupamento de Artilharia Antiaérea do Exército, sem previsão para serem despachadas. O material foi recolhido por um grupo de esposas de militares, sensibilizadas pela situação do país caribenho. O gesto de solidariedade, porém, esbarra em um problema de logística: a Força Aérea Brasileira (FAB) não está autorizada a fazer o envio de Brasília ao Rio. De acordo com a assessoria da FAB, os militares fazem apenas o serviço de ¿táxi aéreo¿.

Ivone Luzardo, da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas Brasileiras (Unemfa), que há oito dias recolhe itens na SQN 103, chegou a interpelar o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na saída do expediente, na porta do ministério, na segunda-feira última. ¿Falei a ele (Jobim) de nosso trabalho e pedi garantias de envio¿, contou Ivone. ¿O ministro perguntou o que havíamos arrecadado e informei que dispúnhamos de água, roupas e comida. Ele se emocionou quando soube que temos biscoitos para enviar, certamente porque pensou nas criancinhas haitianas¿, relatou.

Jobim encaminhou Ivone ao almirante Prado Maia, chefe do Estado Maior de Defesa. Este a informou das dificuldades. ¿O almirante é um homem de palavra, vem de uma família tradicional de almirantes e me assegurou que tudo o que temos aqui irá para os haitianos.¿ Cogitou-se até a possibilidade de mandar por via marítima, desde o Rio de Janeiro, mas não há sequer navios à disposição e o traslado duraria, no mínimo, 15 dias. Fora os transtornos para atracar na capital haitiana, uma vez que a estrutura portuária foi danificada pelo tremor.

De acordo com Homero Zanotta, do Gabinete de Segurança Institucional, 22 voos já saíram do Brasil rumo ao Caribe com aproximadamente 200 toneladas de carga, incluindo material de uso militar e mantimentos. As doações dos mineiros e paulistas, arrecadadas pelas defesas civil estaduais, já partiram.

Prioridade

A Secretaria Nacional de Defesa Civil enfrenta dificuldades em organizar a demanda. De acordo com a secretária nacional da Defesa Civil, Ivone Valente, são os militares em Porto Príncipe que definem o que deve ser enviado. ¿Todos os dias são dois aviões do Rio com a capacidade máxima de pessoas e carga, e só mandamos o que nos pedem¿, justificou. ¿Não estamos fazendo campanha, estamos apenas dando orientações. O ideal seria que a ajuda fosse dada em dinheiro¿, acrescentou.

A entidade prefere que as doações sejam feitas diretamente nas contas bancárias informadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo governo haitiano. O que vai de encontro à promessa feita ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, de aumentar o envio de doações ao Haiti.

Ivone Valente pediu que a Unemfa procure a Defesa Civil do DF para dar um destino aos mantimentos. O agente Ernandes Couto, da esfera local do órgão, disse que a União das Esposas dos Militares é a responsável pelo transporte dos donativos até a base aérea do Galeão. ¿As doações que mandaremos ao Rio são aquelas que estão sendo entregues na sede da Defesa Civil, em Ceilândia Centro¿, explicou.

1 - Pedido de paciência Oficialmente, não houve pedidos para doação de roupas aos haitianos. Mas, no meio da tarde de ontem, duas vans abarrotadas de sacolas de roupas foram descarregadas no térreo do Bloco C da SQN 103, onde a Unemfa montou sua base de arrecadação. De acordo com Ivone Valente, secretária nacional da Defesa Civil, esses itens não irão para o Haiti. ¿Pedimos paciência para aguardar o momento de doar as roupas. Ninguém está pedindo isso ainda¿, alertou.