Título: Câmbio ainda ajuda empresa com dívida ou que importa
Autor: Bueno, Sérgio; Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2009, Brasil, p. A3

Sérgio Bueno e Vanessa Jurgenfeld, de Porto Alegre e Florianópolis

Apesar de prejudicar a rentabilidade das vendas externas, algumas empresas exportadoras estão satisfeitas com a valorização do real. É o caso de companhias com endividamento em dólar ou que importam um volume significativo de insumos. Para o diretor corporativo e de relações com investidores do grupo Randon, Astor Schmitt, um câmbio entre R$ 2 e R$ 2,20 por dólar ainda é "palatável" para as exportações. "Quando o dólar caiu para R$ 1,60 dizia-se que o Brasil iria quebrar, mas a vida continuou", disse o executivo.

Segundo ele, a baixa cotação do dólar compromete as margens obtidas na exportação, mas, em contrapartida, tem efeitos favoráveis sobre os passivos em dólar. O grupo, que produz autopeças, reboques rodoviários e vagões ferroviários, encerrou o primeiro trimestre com dívidas financeiras, de curto e longo prazo, de R$ 641 milhões, sendo 38,3% em moeda estrangeira.

Schmitt disse que neste ano não será o câmbio, mas a retração das economias nos países importadores que terá influência sobre as exportações da Randon. No primeiro trimestre, o grupo exportou US$ 34,2 milhões, 45% a menos que no mesmo período de 2008, mas a projeção para o acumulado do ano é embarcar US$ 240 milhões, queda de 16% em relação ao ano passado.

O diretor de relações com investidores da Marcopolo, Carlos Zignani, ainda considera "excelente" para as exportações da fabricante de carrocerias de ônibus o dólar cotado acima de R$ 2. "Para quem exportou com o dólar a R$ 1,60 no ano passado, este patamar ainda é ótimo", afirmou.

Segundo Zignani, quando o dólar sobe a empresa é beneficiada via crescimento da margem bruta das vendas no mercado externo, que no primeiro trimestre representaram 42,1% da receita consolidada líquida de R$ 474,1 milhões, e com a aplicação do faturamento extra em reais no mercado financeiro no país. Quando o movimento se inverte, o ganho vem das operações com derivativos contratadas para proteger as carteiras de exportação. No fim de março a empresa registrava um passivo líquido em moeda estrangeira, exposto à variação cambial, de US$ 33,8 milhões.

Décio da Silva, presidente do conselho de administração da WEG, fabricante de motores elétricos para eletrodomésticos e equipamentos para automação industrial, geração e distribuição de energia, afirmou que "torce" para que a moeda americana encerre o ano num patamar acima de R$ 2,20, em linha com as previsões de economistas e analistas antes da recente desvalorização.

De acordo com o empresário, a companhia evita operações com derivativos e procura fazer uma proteção "natural" equilibrando o máximo possível exportações e importações e ativos e passivos em moeda estrangeira. Ele não especificou o patamar cambial mínimo para garantir a rentabilidade das exportações. "Mas tudo tem limite. Em 2008, com o dólar a R$ 1,60, perdemos um pouco, mas sobrevivemos relativamente bem".

No primeiro trimestre as receitas obtidas pela WEG no mercado externo cresceram 38% em reais pela taxa de câmbio média, para R$ 468,6 milhões, o equivalente a 36,9% do faturamento bruto consolidado da empresa. Em dólares, a alta foi de 3,8%, para US$ 202,7 milhões. Conforme a empresa, a exposição cambial líquida no fim de março era de apenas US$ 36,4 milhões.

Germano Costa, gerente comercial da Brandili, indústria têxtil de Apiúna (SC), considera que o mais recente recuo do câmbio até pode favorecer a empresa para importar em melhores condições matérias-primas e até produtos acabados. No entanto, pesa de forma maior e mais desfavorável a instabilidade cambial, que "para qualquer planejamento empresarial é um horror".

Ele disse que importou produtos da China para compor os itens da coleção de verão e foi prejudicado pela instabilidade. "Importamos com o dólar fechado a R$ 1,60, mas o produto chegou ao Brasil a R$ 2,40, portanto, teve impacto direto de 50% a mais nos custos da coleção. E isso você não consegue compensar em preços depois".

Costa mostra-se receoso com as vendas fora do país. A empresa já vem exportando mais timidamente e tem sentido a crise mais fora do que dentro do país. Neste momento, a Brandili considera prudente "desacelerar as vendas lá fora e acelerar dentro do país". A exportação girou entre 7% e 5% do faturamento total nos últimos anos. Agora, a previsão é de 4%, "e com tendência de queda", disse Costa.