Título: Campanha paz e amor, mas não ainda
Autor: Pariz, Tiago; Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 22/01/2010, Política, p. 2

Dilma e Serra planejam deixar a troca de xingamentos para aliados, na tentativa de evitar desgaste. Lula, no entanto, resolve desabafar e ataca o presidente do PSDB, Sérgio Guerra: ¿Ele é um babaca¿

Lula e a equipe ministerial, na Granja do Torto: petista pregou o alto nível na campanha, mas elevou o tom contra os tucanos na reunião

A eleição presidencial deste ano ocorrerá em dois planos. Os protagonistas vão ficar na retaguarda pregando o tom zen e deixar todo o jogo sujo para partidos e parlamentares. A guerra deflagrada entre a cúpula do PT e do PSDB ¿ que virou troca de xingamentos ¿ é o retrato fiel dessa estratégia. Termos como ¿jagunço¿, ¿hipócrita¿, ¿desequilibrado¿, ¿mentirosa¿, ¿incapacitada¿ e ¿dissimulada¿ dominaram o noticiário político ao longo desta semana. Cauteloso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que sua candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não faça o jogo rasteiro da oposição, adotando a mesma estratégia do governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

A primeira reunião ministerial do ano ¿ convocada para tratar da ajuda humanitária ao Haiti e das linhas gerais da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ¿ acabou em eleições. O presidente Lula distribuiu orientações aos seus comandados. Demonstrou estar cada vez mais fechado na tese de que a base aliada não pode ter outra candidatura. ¿A campanha tem que ser plebiscitária. Uma campanha quem sou eu e quem és tu¿, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, citando o discurso com que o presidente fechou o encontro. Lula já vê Ciro Gomes como carta fora do baralho, e voltou a falar que quer o deputado na disputa pelo governo de São Paulo.

O presidente também defendeu uma disputa de alto nível nos holofotes, mas nos bastidores a conversa é outra. Ele acredita que Dilma tem que responder apenas a José Serra e não entrar nas provocações do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). No discurso parece tarefa fácil, mas na prática¿ O próprio presidente perdeu as estribeiras. Na reunião ministerial, com o espectro do senador pairando na Granja do Torto, Lula disse que o presidente tucano é um ¿babaca¿ por não saber o que está dizendo quando critica o governo. ¿Sérgio Guerra é um babaca. Ele desconhece as obras do PAC porque não quer conhecer. É só ler os jornais ou visitar o estado dele que vai encontrar as obras do PAC¿, atacou.

Ao saber da frase de Lula, Guerra respondeu: ¿A incontinência verbal do presidente Lula é absoluta e conhecida por todos. Mas, em respeito ao presidente da República, não vou dar a resposta que ele merece e que eu gostaria¿.

A cúpula do PT e do governo se animaram com o tom agressivo dos dois lados. O próprio ministro das Relações Institucionais alfinetou os tucanos. ¿O PT é da paz. A guerra está no PSDB¿, disse. De todos os lados, o tom zen, ao que parece, ficará na promessa.

A prova está nas declarações de parlamentares do PT e PSDB. Elas dão mostras de que o ano será de embate pesado. ¿O presidente Lula está certo ao pedir um debate eleitoral de alto nível. Agora, se vierem com chute na canela, para nós, canela vai ser o que vier do pescoço para baixo. Estamos prontos para tudo¿, resumiu o deputado petista Fernando Ferro (PE), nome cotado para assumir a liderança da sigla na Câmara. O homem que irá defender o PSDB na Casa em 2010 responde no mesmo tom. ¿O Serra não vai entrar nessa. Mas o partido e as bancadas no Congresso estão prontos para o embate. Nós vamos desmentir o PT¿, afirmou João Almeida (PSDB-BA).

Provocação O curioso é que a guerra ganhou corpo quando a ministra Dilma Rousseff entrou na provocação, justamente o que não quer Lula. Sérgio Guerra criticou publicamente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Em resposta, Dilma disse que a oposição queria ¿ acabar com o PAC¿. A tréplica veio em tom mais áspero. Em nota, o senador Sérgio Guerra, definiu a ministra como mentirosa e dissimulada. ¿Dilma Rousseff mente. Usa a mentira como método¿, afirmou.

Para tirar a ministra do foco, coube ao homem que se equivale a Guerra em nível hierárquico dentro do PT devolver a ofensa. O presidente da sigla, deputado Ricardo Berzoini, assinou declaração conjunta com o presidente eleito petista, José Eduardo Dutra, para chamar Guerra de ¿jagunço político¿ de Serra. Berzoini e Dutra dispararam para todos os lados. ¿O que mais salta aos olhos é a hipocrisia do candidato do PSDB, José Serra, que ao mesmo tempo em que afirma estar `concentrado no trabalho¿ e que `não vai entrar em nenhum bate-boca eleitoral de baixaria¿, usa o presidente do seu partido como um verdadeiro jagunço da política para divulgar uma nota daquele teor.¿ Guerra anunciou que irá entrar na Justiça contra o PT.

Sérgio Guerra é um babaca. Ele desconhece as obras do PAC porque não quer conhecer. É só ler os jornais ou visitar o estado dele¿

Luiz Inácio Lula da Silva

A incontinência verbal do presidente Lula é absoluta e conhecida por todos. Mas, em respeito ao presidente da República, não vou dar a resposta que ele merece¿

Sérgio Guerra

Colaborou Josué Nogueira

Ação contra discursos

Enquanto PSDB e PT encabeçam o embate eleitoral antecipadamente, partidos que vão ajudar a compor a oposição também se movimentam na tentativa de desestabilizar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Com esse intuito DEM e PPS assinaram, ao lado dos tucanos, uma representação contra a ministra e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Superior Eleitoral. Os três partidos os acusam de fazer campanha antecipada durante viagem à cidade mineira de Jenipapo.

Para dar sustentação ao documento, os partidos de oposição utilizaram trechos do discurso feito pelo presidente Lula naquele município, durante a inauguração da barragem Setúbal, no Vale do Jequitinhonha, no último dia 19. Foi a primeira agenda da ministra em território mineiro ¿ e tucano. ¿Vamos precisar pegar todas as obras que tem em Minas Gerais (¿) porque a partir de abril, o Geddel (ministro Geddel Vieira, da Integração Nacional) já não estará mais no governo, e a Dilma já não estará mais no governo, e quem for candidato não vai nem poder subir em palanque comigo¿, disse o presidente, na fala destacada na representação.

Para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), a postura dos petistas fere a lei eleitoral. ¿Ela (Dilma) não pode ficar fazendo campanha com esses argumentos. Como que se vai fazer inauguração de obras para combater a oposição?¿, questionou. Na representação os três partidos pedem que a ministra e o presidente paguem multas. (TP e DL)