Título: Estudo do Ipea mostra que demissões foram mais fortes no interior
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Fonte: Valor Econômico, 30/04/2009, Brasil, p. A3

A crise internacional tem levado o mercado de trabalho a dar preferência a jovens, com baixos salários e maior escolaridade, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem, na série "Comunicado da Presidência". Ao avaliar o efeito da crise sobre o emprego no país, o Ipea concluiu que foi recorde a eliminação de postos de trabalho desde novembro, especialmente no interior, e entre as faixas de maior renda. Embora continue, despencou o ritmo de criação de emprego para trabalhadores de maior escolaridade.

Em fevereiro, houve criação de empregos nas regiões metropolitanas e não metropolitanas, mas no pior patamar dos últimos nove anos, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Quando registrados os dados de janeiro a novembro, a redução nos postos de trabalhos chegou a 167 mil nas regiões metropolitanas, e a 525 mil nas regiões fora dos grandes centros. As regiões metropolitanas são as únicas onde há um saldo positivo na criação de empregos desde outubro, mas em nível inferior ao necessário para acompanhar o aumento da População Economicamente Ativa, diz o Ipea.

O Ipea alerta que, por questões de metodologia, esse aumento de desligamentos nos contratos de trabalho pode não se refletir nos outros indicadores de desemprego. Diferentemente do Caged, que baseou a análise dos pesquisadores do instituto, os indicadores de emprego e desemprego do IBGE e do Dieese registram também o comportamento do setor informal, mais resistente à crise, e se restringem a regiões metropolitanas selecionadas. Somente o Caged, ao registrar com detalhes o comportamento do mercado formal também no interior, pode dar a dimensão do impacto da crise sobre os postos de trabalho com carteira assinada, que vinham crescendo em número nos últimos anos, até outubro de 2008.

Na análise do Ipea, foram constatadas reduções no número de empregos para todas as faixas salariais que superam um salário mínimo, principalmente na faixa entre um e cinco salários mínimos. Já antes da crise essa faixa vinha se reduzindo no total de empregos, em parte pelo crescimento do valor real do salário mínimo.

Os reflexos da crise sobre empregos, que começou no Sudeste, nos centros mais dinâmicos, agora se espalha para o interior, embora, em Minas, ainda seja importante em todo o Estado. Em São Paulo, as perdas são mais fortes nas regiões não metropolitanas e há concentração de perdas na região Norte, principalmente Pará e Amazonas.

Na avaliação dos pesquisadores do instituto, os dados do Caged desde outubro mostram que os setores que mais perderam postos de trabalho foram, coincidentemente, os que mais haviam gerado emprego nos meses anteriores, e hoje estão fortemente afetados pela retração dos mercados externos. (SL)