Título: Para eleitor, juro preocupa mais que inflação
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Fonte: Valor Econômico, 30/04/2009, Política, p. A7
Líder inconteste nas preocupações do eleitor nas últimas décadas, a inflação começa a perder espaço no rol de angústias da população brasileira neste ano em que se comemora o 15º aniversário do Plano Real. Uma pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) sobre os impactos da crise financeira mundial no país e a percepção que os brasileiros têm da situação mostrou que a taxa de juros, pela primeira vez, desperta mais temor nos eleitores do que a então inimiga número um do país. "Isso é inédito, não temos registro na literatura ou no histórico de pesquisas de que a política monetária cria mais preocupação nos brasileiros do que a inflação", afirma Cláudio Lavareda, cientista político da FGV e coordenador da pesquisa.
Assim como em anos anteriores, o desemprego ocupa o primeiro lugar nos pontos com que os governantes, na opinião dos entrevistados, deveriam se preocupar em momentos de crise, como agora. Historicamente a falta de emprego e os índices de inflação sempre encabeçaram a lista de temas que mais despertam temor por parte da população. De acordo com a pesquisa realizada nos dias 13 e 14 deste mês com mil eleitores de 120 cidades brasileiras, 74% dos entrevistados citam o desemprego como principal preocupação. A taxa de juros foi citada por 46% das pessoas ouvidas, enquanto a inflação desperta o temor de apenas 16% dos participantes da pesquisa.
Para Lavareda, mais do que a década e meia de estabilidade que o país vive, a recorrente citação dos juros no noticiário e e nos debates sobre o futuro do país faz com que o tema seja lembrado pelos eleitores. "Isso mostra como a população está conectada aos problemas enfrentados pelo país e que o debate sobre o assunto está reverberando na sociedade brasileira", diz o cientista político da FGV.
Os ônus e os bônus políticos da questão em 2010, dependendo de que lado está o debatedor, ainda não estão claros para Lavareda. Tudo dependerá de como o país vai emergir da crise econômica. Se iniciar 2010 em crescimento, sem sequelas graves da retração econômica que se anuncia para esse ano, dificilmente a oposição continuará a criticar o governo na condução da política monetária, como vem fazendo repetidamente o governador de São Paulo, José Serra. Mas caso a crise se agrave e traga problemas mais acentuados para o país a médio prazo, as divergências econômicas entre governo e oposição provavelmente devem concentrar o debate eleitoral, como ocorre hoje.
A pesquisa mostrou ainda que para 67% dos entrevistados o maior responsável por combater os efeitos da crise é o governo federal. O índice de eleitores que atribuem a responsabilidade aos governos federal, estadual e municipal de forma conjunta ou independente chega a 29% dos entrevistados. Na opinião deles, quem está se saindo melhor no combate a crise é exatamente o governo federal.
"A cartilha que os prefeitos e governadores deveriam seguir nesse momento é mostrar para a população que eles não tem armas suficientes para enfrentar a crise, que esta função cabe à União", afirma o cientista político, eximindo-se de comentar a estratégia que José Serra tem utilizado para se posicionar no debate político econômico atual. "Quem está fazendo isso está no caminho certo, eles precisam mostrar as limitações e o que estão fazendo apesar delas".