Título: Gabrielli admite componente político na definição de preço
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2009, Brasil, p. A5

A Petrobras admitiu ontem que as decisões sobre reajustes no preço dos combustíveis no país tem um componente político. O presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, disse que não é possível analisar o assunto sob o ponto de vista exclusivamente técnico já que a empresa tem 99,9% do refino no país. " Consequentemente temos que avaliar as condições técnicas, de mercado, e o impacto macroeconômico da decisão. Essas duas coisas, na maioria das vezes, não são contraditórias", disse o executivo ontem no Fórum Econômico Mundial para a América Latina. Após o pedido de uma resposta mais específica sobre a próxima decisão sobre preços, ele respondeu o seguinte. "Vamos avaliar as condições de mercado e as condições de realizar politicamente a decisão. As duas coisas são simultâneas", disse ele.

Em entrevista pouco antes o executivo voltou a repetir o que vem sendo dito pela empresa desde que o presidente Luis Inácio da Silva assumiu a presidência da República em 2003. Que a política doméstica de preços para o diesel e a gasolina não leva em consideração o comportamento de curto prazo dos mercados, muito menos transferindo para cá a volatilidade observada no mercado do golfo do México, que sequer representaria, segundo ele, o mercado americano como um todo. " Levamos em consideração o comportamento futuro da gasolina e do diesel, o preço do petróleo, a taxa de câmbio, o comportamento futuro do álcool e dos diversos componentes que afetam o mercado brasileiro", repetiu.

Para reforçar, Gabrielli afirmou que a Petrobras não tem condições de, sozinha, determinar o nível de preços no país se eles estiverem muito diferentes do mercado internacional. Lembrou que existem 150 distribuidoras em operação no país que poderiam importar gasolina e diesel mais barato para revender no país se a Petrobras tiver preços muito diferentes. Ele não mencionou que a estatal é dona de toda a infraestrutura de transporte e armazenagem. "O mercado brasileiro é aberto. Eles (as distribuidoras) não importam (combustíveis ) em grande quantidade porque não sabem o que vai acontecer com os preços em 45, 60 dias. Portanto, na medida que esse preço futuro se estabilizar será necessário reajustar o mercado local", disse Gabrielli, frisando que não há divergência entre o que ele tem dito e às declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega na quarta-feira. "Eu tenho dito e foi isso que o ministro Guido falou também, que assim que houver certa estabilidade no mercado internacional vamos rever os preços".

Em tom bem humorado na maioria das vezes, o executivo explicou que a viagem para a Ásia de Almir Barbassa e Renato Duque, diretores financeiro e de serviços da Petrobras, respectivamente, não tem qualquer motivação financeira como se especula desde que a companhia anunciou a assinatura de um termo de compromisso com a China para empréstimo de US$ 10 bilhões, o que foi seguido de um acordo com a Marubeni que envolvia compra de equipamentos em troca de financiamento japonês. Segundo Gabrielli, os dois diretores estão fazendo um "road show" por Cingapura, Coreia e Japão com o objetivo de atrair investimentos produtivos para o país, e não financeiros. "Queremos atrair construtores de navios, máquinas, equipamentos, metalurgia, sondas, enfim, tudo que precisamos."

O presidente da Petrobras acrescentou que as discussões estão acontecendo com empresas financeiras e com a cadeia de supridores de equipamentos e serviços da indústria de petróleo e gás. Também negou que a China seja o único país interessado em financiar os investimentos no pré-sal. A empresa negocia com Canadá, Itália, Noruega, Dinamarca, Coreia, Singapura, Japão e Estados Unidos.

"São discussões para apresentar propostas de programas de longo prazo que combinam com a intenção desses países de estimularem sua própria industria. E como o Brasil e a Petrobras são hoje, disparadamente, o principal mercado para águas profundas do mundo, já que o volume de obras que temos hoje é maior do que qualquer outro no mundo, nós somos o mercado", afirmou Gabrielli.