Título: Relator da CPI dos Grampos pede indiciamento de Dantas
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Fonte: Valor Econômico, 17/04/2009, Política, p. A8
O comando da CPI das Escutas Clandestinas da Câmara vê indícios de envolvimento do banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, em escutas telefônicas ilegais. O presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), disse estar "mais do que comprovada" a ligação de Dantas com grampos telefônicos ilegais. Itagiba disse ser favorável ao indiciamento do banqueiro pela participação em escutas clandestinas.
Depois de ouvir o depoimento do banqueiro por mais de seis horas, o relator da comissão, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), disse ter a "percepção" de que Dantas agiu para obter informações privilegiadas na briga pelo controle da Brasil Telecom por escutas clandestinas. "Tenho uma percepção de que foi guerra empresarial em que os dois lados usaram do mesmo meio", disse.
Pellegrino não adiantou se vai sugerir o indiciamento de Dantas no relatório final a ser apresentado para a CPI. Itagiba também defende o indiciamento do delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, e do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Paulo Lacerda por falso testemunho. "Sou favorável ao indiciamento no mínimo por faltaram à verdade perante a CPI", afirmou.
À CPI, Dantas disse ser "vítima" de grampos ilegais realizados pelo delegado durante a Operação Satiagraha: "Eu fui vítima de escuta ilegal [montada] pela estrutura coordenada pelo delegado Protógenes Queiroz. Não sei se a estrutura usada foi a da PF ou da Abin. O senhor Protógenes quer se colocar de vítima."
A reportagem não conseguiu falar com Protógenes. O advogado de Protógenes também não atendeu às ligações da reportagem. A assessoria da PF não vai se manifestar.
O banqueiro disse que foi espionado durante as investigações da PF e questionou a legalidade da Satiagraha. "Eu tenho informações de que na Satiagraha os grampos que foram feitos foram ilegais", afirmou.
Dantas também apresentou um laudo para desqualificar a denúncia de tentativa de suborno a um delegado da PF. Por essa suposta tentativa de suborno, Dantas foi condenado pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6 Vara Criminal, a dez anos de prisão por corrupção ativa e ao pagamento de multa de R$ 12 milhões.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, Dantas teria usado os emissários Humberto Braz e Hugo Chicaronni para tentar subornar o delegado Victor Hugo Ferreira e dessa forma tirar seu nome das investigações da Satiagraha.
O laudo apresentado por Dantas diz que a voz flagrada na tentativa de suborno não é de Braz. Apesar do empresário aparecer nas imagens que flagraram a cena do crime, Dantas disse que a fita foi utilizada para insinuar o suborno - mas teria sido adulterada para que as vozes não coincidissem com as imagens. "A conversa sobre o dinheiro ocorreu quando Braz estava no banheiro. A voz não é dele, está aqui na gravação. Ele foi ao banheiro, [o delegado] chama o cinegrafista para filmar o flagrante. Esse é o espírito da operação controlada. Mas não fizeram o flagrante", afirmou. O laudo foi elaborado pelo perito Ricardo Molina, segundo Dantas, depois de a PF ter se recusado a realizar a investigação.
Dantas disse que foi vítima de uma armação. Afirmou ainda que a PF destruiu provas do suposto flagrante de suborno ao depositar
US$ 1 milhão oferecido ao delegado na Caixa Econômica Federal.
Dantas negou ter qualquer relação com Fabio Luís Lula da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O banqueiro disse não acreditar que Lula tenha solicitado a Operação Satiagraha para investigar supostas acusações contra seu filho. "Se o presidente quisesse saber o que estava acontecendo com o filho, ele não precisaria de 100 agentes da Abin para investigar", afirmou.
Dantas disse à CPI acreditar que juízes de primeira instância estejam suscetíveis a "atos de corrupção" no país. O banqueiro isentou, porém, o juiz Fausto De Sanctis de envolvimento em corrupção: "A preocupação de alguns dos nossos advogados era que, em casos de primeira instância, poderia ter havido corrupção de magistrados. Em instâncias superiores, essa hipótese é mais remota. No caso de São Paulo, há gravação referindo-se ao fato de que o juiz De Sanctis não é suscetível a esse tipo de coisa".