Título: Vírus deve fazer piorar a já doente economia mexicana
Autor: Cordoba , José
Fonte: Valor Econômico, 30/04/2009, Internacional, p. A12

José de Cordoba e Joel Millman, The Wall Street Journal, da Cidade do México 30/04/2009

A epidemia de gripe suína, que pode ser responsável por cerca de 150 mortes aqui, também está desfechando um severo golpe na economia mexicana, empurrando-a mais fundo para a recessão, disseram economistas.

Boa parte dos prejuízos se concentram na Cidade do México. Nessa área metropolitana de 24 milhões de habitantes, que normalmente tem intensa atividade, as ruas estão estranhamente silenciosas devido às medidas drásticas tomadas pelas autoridades para evitar que as pessoas se reúnam e espalhem a doença. Bares, boates cinemas e teatros receberam ordem de fechar, os restaurantes só podem entregar refeições a domicílio, e os jogos de futebol estão se realizando em estádios vazios.

"Nossos negócios caíram 90%", diz Filberto Hernández, gerente do Mr. Sushi, restaurante muito frequentado na elegante avenida Masaryk. Os vendedores de rua não estão se saindo muito melhor. Aparentando desânimo ao lado da sua pirâmide de abacates e saquinhos de torresmo de porco, Elvira Degollado diz que já faz horas que não faz uma venda. "Não estou vendendo praticamente nada", diz ela, com um suspiro. "As pessoas não confiam em nenhum alimento, acham que nada é seguro para se comer."

Economistas dizem que por causa da gripe, o México terá uma forte contração econômica este ano. Muitos acreditam que o atual estado de emergência vai levar a economia mexicana a se contrair nada menos que um ponto porcentual adicional no segundo trimestre, acentuando uma contração para o ano estimada entre 3% e 6%.

Ontem, o banco central do México informou que a economia se contraiu até 8% no primeiro trimestre em relação a um ano atrás, e também que a economia pode cair 4,8% no ano.

A Cidade do México, o motor econômico do país, está funcionando em marcha lenta desde que o governo declarou emergência, na sexta-feira. Segundo calculam as associações comerciais da cidade, o comércio está perdendo mais de US$ 100 milhões por dia devido às ordens de fechar as portas.

Os enormes prejuízos fizeram com que grupos de várias áreas apresentassem uma petição ao prefeito da Cidade do México, Marcelo Ebrard, para reconsiderar sua decisão de fechar os bares, boates e restaurantes até a comemoração do Cinco de Maio, uma festividade nacional, na próxima terça-feira.

A epidemia também está esvaziando os hotéis nas praias mexicanas, com os turistas cancelando suas reservas de férias e os executivos adiando suas viagens de negócios.

Autoridades sanitárias do México dizem que têm a epidemia sob controle e que estão observando tendências positivas nos números. "Temos condições técnicas e humanas de lidar com isso", afirmou Miguel Ángel Lezana, o epidemiologista chefe do governo.

O número de casos na Cidade do México estava começando a cair, disse ele. Todos os pacientes que já morreram ficaram doentes antes de 23 de abril, quando o governo descobriu que se tratava de gripe suína e declarou situação de emergência, contou Lezana, sugerindo que os médicos podem tratar a doença com mais rapidez com remédios antivirais.

O médico disse que sua maior preocupação agora é com o impacto econômico da epidemia "em tempos como estes", disse ele numa referência à recessão mundial.

Para a importante indústria turística mexicana, que já vinha lutando contra uma onda de publicidade negativa devido à escalada da violência relativa às drogas, ocorrida no início do ano, o vírus não poderia ter vindo em pior momento.

Nos últimos dias, várias operadoras de navios de cruzeiro cancelaram escalas já programadas em portos mexicanos. O governo americano aconselhou seus cidadãos a adiarem as viagens ao México, ao passo que Cuba e a Argentina suspenderam temporariamente os voos para o país. Ontem o Equador também restringiu os voos para o México.

Os hotéis em Cancún informam uma onda de cancelamentos. "Um hotel informou que perdeu de 35% a 40% dos negócios devido à gripe", disse David Warick, do Knowland Group, agência de marketing americana especializada na indústria turística, que está realizando uma pesquisa com quase 200 hotéis

Entre os setores que devem ser muito atingidos estão transportes, serviços, varejo, turismo e entretenimento, disse Alfredo Thorne, principal economista do J P Morgan Chase para o México.

"A Cidade do México e o Estado do México respondem por 30% do PIB do país", diz Alfredo Coutiño, diretor para a América Latina da Moody´s Economy.com. "Já faz duas semanas que essa área vem operando com apenas 30% a 40% de sua capacidade. Estamos falando em fábricas, serviços, todos os tipos de negócios. E isso provavelmente vai continuar por mais duas semanas."