Título: Jalles Machado vai investir R$ 330 milhões em Goiás
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 30/04/2009, Agronegócios, p. B12

O grupo Jalles Machado, um dos mais antigos de Goiás, vai investir R$ 330 milhões na construção de uma nova usina de álcool no mesmo Estado. A unidade, a segunda da companhia, deverá atender ao mercado interno, uma vez que o Estado ainda "importa" etanol de outras regiões do país para consumo.

A nova usina do grupo deverá entrar em operação na safra 2010/11, com uma moagem de 1,4 milhão de toneladas inicialmente, atingindo 5 milhões quando todos os investimentos estiverem concluídos. A planta será erguida na cidade de Goianésia, a 50 quilômetro da sede da companhia, instalada no mesmo município. "A proximidade nos dá uma importante sinergia operacional", disse ao Valor Henrique Penna Siqueira, diretor técnico da Jalles Machado, e neto do fundador do grupo.

Criada pelo ex-governador de Goiás, Otávio Lage, no início dos anos 80, 51% do capital da Jalles Machado ainda está nas mãos da família do fundador. Os 49% restantes estão divididos entre agropecuaristas da região.

Dos R$ 330 milhões que serão investidos, cerca de 80% contarão com financiamento do BNDES. A atual unidade da companhia, a Jalles Machado, deverá moer nesta safra 2,6 milhões de toneladas de cana, com um mix de produção de 65% para o açúcar e 35% para o álcool. "Desde 2002 cogeramos energia para consumo próprio [15MW] e também vendemos no mercado [25 MW]", afirmou Siqueira Já a nova unidade será 100% produtora de álcool na primeira fase do projeto.

A estratégia do grupo em focar no setor sucroalcooleiro foi tomada em 2006, quando a família traçou planos para se desfazer de outros ativos para se concentrar neste segmento. Para concluir seus planos, a família contratou a F&G Agro, que tem atuado como "adviser" da companhia.

Um ano depois, a família Otávio Lage vendeu o frigorífico GoiasCarne para o Independência por US$ 75 milhões (segundo estimativas do mercado), considerado um dos melhores negócios do setor de carnes àquela época. Em fevereiro deste ano, o frigorífico Independência entrou com pedido de recuperação judicial.

De acordo com Henrique Siqueira, parte dos recursos obtidos com a venda do frigorífico já foi aplicada na nova unidade sucroalcooleira. "Começamos a fazer o plantio dos viveiros de cana desde 2006", disse ele.

Para Luiz Gustavo Torrano Corrêa, diretor da F&G Agro, poucas empresas do setor têm conseguido levar adiante seus projetos "greenfield" (construção a partir do zero) após a crise financeira deflagrada no ano passado.

"O grupo [Jalles Machado] conseguiu se capitalizar com a venda do frigorífico e só decidiu acelerar o seu projeto com a aprovação dos financiamentos [BNDES]", afirmou Torrano.

A consultoria acredita que o movimento de consolidação no setor deverá se intensificar este ano. "Há muitas usinas de médio porte que fizeram a "lição de casa" e estão preparadas para expandir seus negócios", disse Torrano.

O Estado de Goiás, sobretudo a região sudoeste, foi um dos que mais receberam investimentos em novas unidades produtoras por conta do boom do etanol. No entanto, parte desses projetos teve de ser adiados por conta da crise financeira pela qual muitas usinas do setor passam.