Título: Embarque de básicos e queda na importação dobram saldo
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2009, Brasil, p. A4

A crise econômica diminuiu fortemente o ímpeto importador que o Brasil vinha exibindo até o terceiro trimestre do ano passado. As importações, medidas pela média diária, tiveram redução de 26,6% em abril e de 22,8% no resultado acumulado dos primeiros quatro meses do ano. Nesta comparação, ocorreu retração em todas as categorias da importação. A queda foi maior em combustíveis e lubrificantes (44,1%), seguida de matérias primas e intermediários (28,2%), bens de capital (6,4%) e nos bens de consumo (1,9%). Nas exportações, o primeiro quadrimestre teve crescimento de 8,7% nos básicos e quedas de 28,7% nos manufaturados e 21,5% nos semimanufaturados.

Na avaliação do secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, a tendência é de queda das importações, o que "tem ajudado a melhorar o saldo" comercial do país. Na relação com o China, o Brasil teve superávit de US$ 1 bilhão no período janeiro-abril, com vendas de US$ 5,62 bilhões e compras de US$ 4,61 bilhões. No quadrimestre, as importações de produtos chineses caíram 17,2%, mas Barral disse que é pequeno o peso das medidas de defesa comercial nesse resultado, apesar de terem aumentado as investigações antidumping.

Barral lembrou que, no lado das exportações, houve uma longa greve dos auditores da Receita Federal que prejudicou o registro dos embarques em março e abril de 2008. Apesar da ressalva e considerando o primeiro quadrimestre, as médias diárias das vendas externas foram 16,5% menores que as de igual período de 2008.

No acumulado de janeiro a abril, a balança comercial teve exportações de US$ 43,49 bilhões e importações de US$ 36,77 bilhões, o que resultou em um superávit de US$ 6,72 bilhões - 49% superior ao de igual período do ano passado e o dobro do acumulado até março. Barral comentou que há uma tendência de recuperação das exportações porque, pelas médias diárias, as vendas de abril cresceram 14,8% sobre março e, no quadrimestre, a queda de 16,5% é menor que a redução de 19,4% contabilizada no primeiro trimestre. Além disso, ele destacou que a China desbancou os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil, mas admitiu que isso também representa o desafio de diversificar e agregar valor às exportações para aquele país.

A deterioração do perfil das exportações é preocupante. Esse fenômeno já vinha ocorrendo, mas agravou-se com a crise econômica mundial. Em abril, a participação dos produtos básicos nos embarques foi de 45,4%. De acordo com os registros do governo, anuais, esse é o maior nível desde 1978 quando os primários responderam por 47,2% do total das exportações. No primeiro quadrimestre de 2009, os básicos ficaram com 39,6% do total das vendas externas, o que significa retrocesso aos níveis de 1982 (40,8%). Nos primeiros quatro meses de 2008, os básicos ocuparam 30,4% do total.

O economista da RC Consultores, Fábio Silveira, alertou para o fato de que a perspectiva predominante para o comércio exterior brasileiro, neste ano, é a de reduções de preços e volumes das exportações. Suas projeções são de vendas de US$ 160 bilhões e compras de US$ 150 bilhões, mas esses US$ 10 bilhões de saldo podem chegar a US$ 12 bilhões ou US$ 13 bilhões, dependendo do comportamento das cotações das commodities. No ano passado, o superávit foi US$ 24,83 bilhões, com exportações de US$ 197,94 bilhões e importações de US$ 173,10 bilhões.

O vice presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, estima que a balança, em 2009, terá saldo de US$ 20 bilhões, com vendas de US$ 163 bilhões e compras de US$ 143 bilhões, o que significa queda de quase 18% sobre o total das importações em 2008.

Na avaliação de Castro, as importações devem continuar caindo porque falta demanda do mercado interno. Apesar disso, com a cotação do dólar baixando de R$ 2,30 para R$ 2,12 pode haver um movimento de retomada da compra de insumos estrangeiros, mas também volta a preocupação com uma "invasão" de produtos chineses, principalmente bens de capital, eletroeletrônicos, confecções e calçados.