Título: O verdadeiro perigo do aquecimento global
Autor: Klaus,Václav
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2009, Opinião, p. A11

Com a crise financeira mundial ficou claro que será difícil arcar com as novas e caras fontes de energia

Estou surpreso em ver nos dias de hoje como tantas pessoas na Europa, Estados Unidos e outros lugares acabam apoiando políticas calcadas na histeria sobre o aquecimento global, particularmente a lei do comércio de licenças de emissão para reduzir a liberação de gases causadores do efeito estufa e os subsídios para fontes de energia "verdes". Estou convencido de que esta é uma estratégia mal direcionada - não apenas pelas incertezas quanto aos perigos que o aquecimento global pode representar, mas também pelas certezas quanto aos danos que essas políticas propostas, idealizadas para aliviar o problema, trarão.

Fui convidado para discutir esta questão em recente conferência em Santa Bárbara, na Califórnia. A plateia incluía líderes empresariais que esperam lucrar com as políticas de licenças de emissão e os subsídios para empregos "verdes" e energias renováveis. Meu conselho a eles foi que não se deixassem contagiar pela histeria.

A Europa está muitos anos à frente dos EUA na introdução de políticas voltadas a mitigar o aquecimento global. Todos os países da Europa ratificaram o Protocolo de Kyoto e adotaram uma ampla gama de políticas para reduzir suas emissões e cumprir as metas determinadas no documento.

Essas políticas incluem uma iniciativa de "limitar e negociar", conhecida como Esquema de Comércio de Emissões (ETS, na sigla em inglês), altos impostos sobre os combustíveis e programas ambiciosos para construir turbinas eólicas e outros projetos de energia renovável. Essas políticas foram assumidas em uma época em que a economia da União Europeia estava bem e - é de se supor - com pleno conhecimento de que haveria custos significativos.

Com a crise financeira mundial e a repentina virada econômica, duas coisas ficaram claras. Primeiro, será difícil arcar com essas novas e caras fontes de energia. Segundo, as políticas de racionamento de energia, como a das licenças de emissão, serão um fardo permanente sobre atividade econômica. Ironicamente, as emissões não diminuíram como resultado dessas políticas, mas apenas agora que a economia mundial dirige-se a uma recessão.

Não é surpresa para alguém que, como eu, esteve ativamente envolvido na transição de um país do comunismo para uma sociedade livre e de economia de mercado. As antigas e ultrapassadas indústrias pesadas que eram o orgulho de nosso regime comunista foram fechadas - praticamente do dia para a noite - porque não podiam sobreviver à abertura da economia. O resultado foi um drástico declínio nas emissões de gás carbônico.

O segredo por trás da redução nas emissões foi o declínio econômico. À medida que as economias da República Tcheca e outros países do Leste Europeu e Europa Central foram reconstruídas e voltaram a crescer, as emissões naturalmente começaram a aumentar. Deveria ficar claro para todos que há uma correlação muito forte entre o crescimento da economia e o uso de energia.

Portanto, fico surpreso em ver pessoas seguindo o argumento atualmente na moda de que políticas como as licenças de emissões, determinações governamentais e subsídios para energias renováveis podem realmente beneficiar a economia. Sustenta-se que o governo, trabalhando ao lado das empresas, criará "uma nova economia da energia", que as empresas envolvidas lucrarão e que todos se sairão melhor.

Isto é uma fantasia. As licenças de emissões apenas poderiam funcionar por meio do aumento dos preços das fontes de energia. Os consumidores que sejam forçados a pagar preços mais altos pela energia terão menos dinheiro para gastar em outras coisas. Embora as empresas específicas que forneçam as energias "verdes" mais caras possam sair-se bem, o efeito econômico líquido dessa iniciativa será negativo.

É necessário ver o quadro geral. É possível lucrar quando a energia é racionada ou subsidiada, mas apenas dentro de uma economia operando com taxas de crescimento baixas ou até negativas. Isto significa que no longo prazo todos concorrerão por um pedaço de bolo que será menor do que teria sido sem racionamento de energia.

Isto não contribui com o nosso crescimento, nem ajuda a superar a atual crise.

Václav Klaus é presidente da República Tcheca, país que detém a presidência do conselho de Ministros da União Europeia até junho de 2009. É autor de "Blue Planet in Green Shackles - What is Endangered: Climate or Freedom?" ("Planeta Azul em Algemas Verdes - O que Está sob Perigo? O Clima ou a Liberdade?", em inglês) © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. www.project-syndicate.org