Título: Preço de bônus corporativo tem rali
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2009, Finanças, p. C1

Os títulos da dívida externa de empresas e bancos brasileiros no exterior estão em meio a um forte rali de preços que teve início há duas ou três semanas e se intensificou ontem, com o otimismo nos mercados financeiros internacionais. Os investidores têm ampliado a cada dia a demanda pelos papéis corporativos, que ainda pagam rendimentos atrativos e são percebidos como de baixo risco. O giro no mercado secundário explodiu e abre espaço para novas emissões.

Os papéis do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de vencimento em 2018, no total de US$ 1 bilhão, por exemplo, tiveram alta de preço de mais de 5% desde o dia 20, para 98% do valor de face. Os rendimentos, que se movem no sentido contrário ao preço, caíram de 7,35% ao ano para 6,75% ao ano no período.

Os títulos recém-emitidos da Telemar Norte Leste e da Construtora Norberto Odebrecht também tiveram alta forte de preços, de 6% e 8%, respectivamente, desde quando chegaram ao mercado, em 9 e 16 de abril. O rendimento dos US$ 750 milhões em eurobônus da Telemar de vencimento em dez anos caíram de 9,75% ao ano na emissão para 8,73% ontem. Os US$ 200 milhões em papéis da Odebrecht de cinco anos passaram a pagar 7,94% ao ano no mercado secundário ontem, abaixo dos 10% da emissão.

Após o susto com a recuperação judicial dos frigoríficos Arantes e Independência, os investidores agora entendem que a inadimplência entre as empresas brasileiras com eurobônus no mercado externo ficou restrita, nesta crise, a esses dois casos. "Em comparação com os Estados Unidos, podemos dizer que não há inadimplência no Brasil", diz Augusto Urmeneta, responsável pela área de mercado de capitais para América Latina do Bank of America Merrill Lynch.

Dessa forma, mesmo títulos de empresas do setor frigorífico têm apresentado forte alta de preços. Os US$ 350 milhões de eurobônus do Bertin de vencimento em 2016, cujos preços havia despencado para 24,63% do valor de face em 9 de março, tiveram forte recuperação. Ontem, eram negociados a 50% do valor de face.

Os títulos de US$ 700 milhões do frigorífico JBS emitidos no exterior no mês passado foram lançados em níveis de 13% ao ano para vencimento em 2016, quando os bônus da empresa para vencimento em 2014 estavam com rendimento a 17% no mercado secundário. A estratégia foi emitir também pela filial americana, de forma a dar mais conforto para o investidor dos EUA.

Os papéis de bancos médios também atraem cada vez mais demanda e conseguem altas expressivas, após a certeza de que o novo depósito a prazo com cobertura de até R$ 20 milhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) será suficiente para garantir a solvência dessas instituições. Os US$ 120 milhões em títulos do BicBanco de vencimento em 2016 passaram a pagar 92% ao valor de face, uma alta de 19% na comparação com os preços de 17 de abril. O rendimento caiu de 17% para 13,70% ao ano.

A movimentação dos títulos hoje está até mesmo maior do que no mesmo período do ano passado, às vésperas de o país obter grau de investimento. Naquela época, os rendimentos das empresas brasileiras eram considerados muito baixos e os investidores buscavam notas estruturas de maior risco e retorno.

"Hoje, ainda é possível obter papéis de empresas brasileiras de baixo risco por preços de crédito inadimplente", diz Urmeneta. Os investidores estão aproveitando essa oportunidade, diz ele. Ele lembra que o mercado de renda fixa reabriu neste primeiro trimestre do ano e o volume de emissões grau de investimento atingiu o recorde absoluto de US$ 350 bilhões. As empresas brasileiras só não aproveitaram mais a janela, segundo ele, pois estão capitalizadas.

A aversão ao risco está menor, mas os investidores que perderam dinheiro com as notas estruturadas têm procurado os papéis mais simples de renda fixa, diz Carlos Gribel, sócio-diretor da Queluz Securities. Segundo ele, vários investidores de private banking (que reúne o dinheiro das pessoas físicas ricas) da Europa e Suíça tiraram seu dinheiro de fundos de hedge mais alavancados, principalmente após as perdas no caso Madoff, e resolveram comprar os papéis corporativos brasileiros.

"Há a noção de que o Brasil está bem em meio à crise", diz Urmeneta. Não é à toa que o risco-Brasil medido pelo swap de crédito da dívida externa já apresenta queda de 14% no ano.