Título: Mantega afirma que Selic pode cair mais sem riscos para a poupança
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2009, Finanças, p. C2

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que ainda há espaço para novas reduções na taxa Selic. O Copom diminuiu a taxa básica de juros em suas três últimas reuniões. Ao todo, a redução foi de 3,5 pontos percentuais. A taxa atual está em 10,25%. "A taxa de juros ainda não caiu o necessário para que o crédito possa voltar a circular com mais intensidade no país", afirmou o ministro.

A declaração de Mantega foi feita após a reunião de coordenação política, realizada na manhã de ontem, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) que está sediando a Presidência da República enquanto o Palácio do Planalto está em reforma. O ministro da Fazenda assegurou, no entanto, que um patamar inferior na taxa Selic não trará riscos àqueles que aplicam seus recursos na poupança. O governo vem estudando novas regras de rentabilidade para evitar que haja fuga de investidores dos títulos do governo.

O ministro não informou o que será feito e quando as mudanças entrarão em vigor. Procurou, no entanto, acalmar os poupadores. "O governo terá todo o cuidado para poupar os pequenos investidores, que representam praticamente 95% das aplicações na poupança", completou.

Mantega disse ainda que a intenção do governo é manter a poupança com as mesmas características que a tornaram atrativa para a maior parte da população: a solidez e a garantia de que não haverá perdas para quem aplica. Mais sólida e mais garantida, o que não quer dizer que seja mais rentável. "Nos últimos dois anos, ela teve uma rentabilidade maior do que muitos fundos de aplicação. Mas esta situação não é comum", complementou.

Mantega negou que o governo esteja estudando novas desonerações tributárias, sobretudo de IPI, como forma de estimular a economia nacional. Esta medida foi exitosa no caso dos automóveis, da linha branca e dos materiais de construção. Outros setores vêm solicitando o mesmo tratamento. "Não dá para fazer redução de IPI para todo mundo. E se formos observar, muitos segmentos já têm IPI quase zero, como alimentos e bens de capital. As reduções que fizemos atingiram aquelas áreas mais sensíveis à crise internacional", declarou o ministro.

Durante a avaliação do cenário econômico global, Mantega afirmou aos demais integrantes da coordenação que, apesar da melhora no sistema financeiro internacional, ainda é cedo para se dizer que a crise diminuiu de intensidade. "O índice Dow Jones está em alta e a Bovespa vem registrando resultados positivos há mais de uma semana", ressaltou.

Para Mantega, boa parte dos bons resultados decorrem das ações eficazes tomadas pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em seus primeiros cem dias de governo. Outro gesto importante para acalmar os mercados, segundo o ministro da Fazenda, foi a decisão pró-ativa do G-20 de engajar as principais economias do planeta em ações de combate à crise internacional.

Mantega ressaltou que a atividade econômica brasileira começa a se recuperar depois do "tombo" verificado no final do ano passado. Destacou a importância do reaquecimento de alguns setores, como a construção civil, graças ao programa "Minha Casa, Minha Vida".