Título: A grande aposta da Vale no projeto de níquel de Goro
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2009, Empresas, p. B6

Apesar da crise que está levando a empresa a cortar com mais vigor produção de minério de ferro e de níquel, a Cia. Vale do Rio Doce cumprirá o cronograma do projeto Goro, localizado na Nova Caledônia, colônia francesa encravada na Oceania. O empreendimento, herdado da canadense Inco e que passou por reavaliação da Vale logo após comprar o controle da empresa em 2006, estará pronto no fim deste ano, adiantou o presidente da companhia, Roger Agnelli, ao Valor. Este é o maior investimento da Vale em níquel, de mais de US$ 3 bilhões, para produção de 65 mil toneladas anuais de níquel refinado e de 4,3 mil a 5 mil toneladas de cobalto ao ano. Deve operar à plena capacidade só em 2012.

Na conjuntura atual de retração da demanda por minério e metais, a Vale tem focado na operação dia a dia de suas minas e demais ativos e trabalhado intensamente para reduzir custos e ajustar a produção de minério e metais ao ritmo das vendas, agora mais fracas em volume e em preços. Neste ambiente hostil, a companhia está simplificando e adiando a entrada em operação de alguns projetos, como ocorreu com o projeto de ferro-níquel de Onça Puma, no Pará, adiado em um ano. "Não adianta colocar em marcha esse projeto se não tem mercado. O ferro-níquel é fundamentalmente para aço inox. Vamos segurá-lo e retomar quando o mercado mostrar algum sinal de vida", informou o executivo.

No caso de Goro, porém, Agnelli argumentou que ali será produzido um outro produto. "É níquel e não ferro-níquel". E contou porque decidiu manter o projeto em andamento. "Na hora que ele entrar em produção vai dar uma redução de custo muito forte para a empresa como um todo, como acontece agora com Brucutu (mina de ferro em Minas Gerais). Para a gente (Vale) Goro é prioritário, pois vai entrar no mercado com muita produção e com custo muito baixo". Segundo ele, o níquel de Goro, que vai integrar todo o complexo de produção da ValeInco, será destinado a mercados mais nobres, que pagam prêmios sobre o preço, e que não sentiram tanto a recessão quanto o mercado de ferro-níquel. "Por isso, estamos acelerando o final de Goro e segurando o "start-up" de Onça Puma".

A novidade é que Goro já começou a produzir em teste, informou Agnelli. Ele confirmou que há um mês a mina teve alguns problemas e agora está corrigindo estes problemas. "Teve uma válvula que estourou e felizmente não ocorreu nada mais sério. A nova planta é muito complexa. Talvez Goro seja a planta mais complexa da indústria de níquel no mundo, por isso seu "rump-up" (evolução da operação) será de três anos".

O níquel não é o problema maior que a Vale enfrenta neste momento de fraqueza dos mercados de commodities metálicas, admitiu Agnelli. "Eu diria que o níquel tem que se adequar à demanda e sua demanda caiu fortemente, mas, em geral, nos minérios, caiu tudo. Em termos de demanda, o níquel está trabalhando com 60% a 70% da capacidade de produção. Não é tão ruim. Mas tivemos alguma formação de estoque", informou. Segundo ele, o estoque do metal parou de crescer porque a empresa tem ajustado sua produção. "Adequar a produção é importante para liberar capital de giro e o capital de giro é muito importante nesta conjuntura de crise. A Vale está trabalhando para não para não consumir caixa", afirmou.

A companhia enfrenta hoje uma ociosidade média de 30% em relação a sua capacidade instalada. Este percentual é menor que os 50% da indústria siderúrgica e outras do setor, mas é expressivo. Para evitar um aumento desta taxa a Vale monitora o dia a dia de seus projetos e torce para uma retomada da atividade o mais cedo possível. "Estamos acompanhando o dia a dia para a gente estar pronto e absolutamente preparado para uma retomada", diz Agnelli.

O executivo acredita que a indústria de mineração e siderurgia, como foram as mais afetadas no primeiro instante da crise , certamente serão as primeiras a sair dela. Ele baseia sua expectativa nos pacotes de estímulos às economias no mundo inteiro, com destaque para Estados Unidos e China, que vão estar investindo fortemente em infraestrutura que consome muito minério de ferro, níquel e cobre. "Vão investir muito em casas e todas as casas hoje têm muita coisa eletrônica, que consome muito cobre, também muita coisa de aço inox que consome muito níquel e bastante coisas de alumínio".

Com um olho na crise e outro no futuro, o presidente-executivo da Vale, que conta com um caixa de US$ 15 bilhões, costura uma estratégia de retorno ao mercado com compras pontuais de ativos estratégicos. É o caso dos recursos de potássio adquiridos na Argentina e Canadá (da Rio Tinto), de fosfato, no Peru, a mina de carvão comprada na Colômbia, três operações de aquisição de minas de cobre na África e a mina de ferro de Corumbá, também comprada da australiana Rio Tinto.

"São ativos de alta qualidade, extremamente competitivos, que só se tem oportunidade de comprar numa situação como a atual. Essa é a estratégia que estamos tocando. Não é mais sair para crescer. É sair para adquirir ativos que se somem à nossa base e nos dê competitividade cada vez maior no médio e longo prazo", afirma.